Camponeses, camponesas, povo
indígenas e quilombolas na tarde do segundo dia, 17, do Seminário Nacional
“MATOPIBA: conflitos, resistências e novas dinâmicas de expansão do agronegócio
no Brasil”, debate sobre “O respeito aos modos de vida e a produção de alimentos
saudáveis: soberania alimentar e a ameaça do uso intensivo de agrotóxicos”.
Maria Emília Pacheco da FASE e do
CONSEA, fala sobre o respeito aos modos de vida é falar dos sujeitos que vivem
nesse território, é falar como esse projeto afeta também os hábitos alimentares
desses sujeitos. “Somos povos do Cerrado temos direitos, a natureza tem
direito. O Cerrado perdeu o cheiro, acabou o puçá, caju do campo, as sementes
secaram. O Cerrado está clamando por vida”, conta Aparecida da Comunidade
Quilombola Grotão, TO.
A Revolução Verde separou os
povos tradicionais do meio ambiente, por meio da desapropriação e despropriação
de seus territórios. “Nós temos uma missão história, nós temos que encontrar
uma forma de reconstruir as relações da natureza, defendendo os direitos dos
povos indígenas, tradicionais e camponeses”, explica Maria Emília.
É preciso compreendermos que a
ideia de território é onde se vive, é um lugar dos ritos, da religiosidade,
portanto, “os camponeses e camponesas são os sujeitos históricos”, afirma Maria
Emília. É por essa razão que a muito tempo os movimentos sociais que fazem
parte da Via Campesina questionaram e chamaram a atenção dos órgãos
internacionais sobre o conceito de Soberania Alimentar. Hoje, a Soberania
Alimentar é tida como um direito, “é uma definição muito importante pois 75%
dos alimentos produzidos no mundo vem da Agricultura Camponesa”, argumenta ela.
Há uma ameaça permanente do
cerceamento à terra, ao direito do livre uso dos territórios e ao exercício dos
seus livres saberes. Quanto a essas ameaças “nós precisamos responder que
acenamos para o futuro, pois não há biodiversidade conservada se não há o que
chamamos de Sociobiodiversidade, a qual não haveria sem as populações
indígenas, quilombolas e camponeses. Visando não só pela parte da produção, mas
também de sementes e venenos”, argumenta a representante da FASE e CONSEA.
Essas ameaças têm afetando
diretamente a alimentação das populações, que estão sendo forçadas pelo
Capital, representado no campo pelo Agronegócio, a deixar de produzir frutas e
verduras para o consumo e substituí-los pelos produtos ultra processados, que
por consequência tem sida a causa de doenças como a obesidade. Outra questão, é
a Biofortificação de sementes, uma manipulação perigosa que torna as sementes
artificiais e por consequência a alimentação.
Comer é um ato político, “acho
que precisamos enfrentar de fato o tema e fazer o diálogo com a sociedade sobre
a redução da nossa diversidade alimentar e as ameaças do uso de agrotóxicos,
pois só comida de verdade no campo e na cidade, produz Soberania Alimentar. É
preciso cuidar e respeitar os processos culturais, hoje há o reconhecimento
histórico e cultural material, porém precisamos debater sobre o valor histórico
cultural imaterial”, enfatiza Maria Emília.

Ela ainda coloca que “o
desenvolvimento sustentável é aquele em que você tem todos os dias o que comer,
não é aquele que você tem só uma vez, isso não sustenta. Temos feito o
lançamento da Lei do Babaçu Livre, para que as mulheres possam poder buscar o
babaçu onde ele esteja. Babaçu Livre é Povo Livre”.
Por sua vez, Cleber Folgado da
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, fala sobre os
agrotóxicos, sua origem e suas consequências. “Eles fazem parte de um pacote de
imposição do Estados Nacional, é resto das armas químicas da II Guerra Mundial
adaptadas para o uso no campo com a justificativa de matar e a fome e de
facilitar o trabalho no campo”.
É importante destacar que essa
imposição é histórica e tem sido feita aos camponeses, criando um ciclo vicioso
com a contribuição do Estado. “O Agronegócio é uma aliança de classes entre o
capital financeiro, as transnacionais e o latifúndio economicamente “bancado”
pelo Estado. Não podemos esquecer do papel que a mídia tem cumprido na criação
da Monocultura da Mente, cientes de que o Capital é expert em criar coisas
inúteis”, esclarece o representante da Campanha.
Na saúde a uso de agrotóxicos
está relacionado as intoxicações agudas que são imediatas, e as crônicas,
causadas pela acumulo diário do consumo de agrotóxicos em nosso organismo. “No
Brasil, os agrotóxicos matam muito mais que os casos de Zika Vírus, a cada
dólar 1 dólar gasto em agrotóxicos é gasto 1,28 dólares em saúde nos casos
agudos, ou seja, imediatos”, explica Folgado.
Quando olhamos para o Meio
Ambiente o uso abusivo de agrotóxicos tem causado distúrbios e o extermínio da
biodiversidade, o que causa um impacto direto nos sistemas produtivos. Sem
contar que quando olhamos para o econômico, contata-se que as empresas têm
isenções fiscais e recebem investimentos por parte do Estado. É por essa razão
que o país se tornou a maior lixeira tóxica do mundo, sendo que desde 2008
somos campeões mundiais em consumo de agrotóxicos.
Folgado fala ainda sobre as
fusões da Bayer e da Monsanto, representando um grande ameaça pois, uma é a
grande produtora de sementes transgênicas e a outra grande produtora de veneno.
Desmistifica os mistos com relação aos agrotóxicos e suas aplicações, do
desmonte normativo (no legislativo, executivo e judiciário), assim como, o
papel e as ações da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
O Seminário Nacional “MATOPIBA:
conflitos, resistências e novas dinâmicas de expansão do agronegócio no Brasil”
iniciou do dia 16 e se entende até a sexta-feira, 18. Organizado pela Campanha
Nacional em Defesa do Cerrado, que tem como lema “Sem Cerrado. Berço das Águas:
Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida” o evento está sendo realizado no centro de
formação da Contag, com o objetivo de estudar, debater e traçar os próximos
passos a serem adotados para barrar esse projeto de expansão do Agronegócio que
é o MATOPIBA.
Por Comunicação MPA
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