Por Coletivo de Comunicação do VIII EIVI
Fotos: Brigada de Audiovisual dos Povos
Contribuir com o processo de formação de militantes engajados com a educação popular e o trabalho de base é um dos objetivos principais que norteia o VIII Estágio de Vivência e Intervenção em Áreas de Reforma Agrária (EIVI - BA).
As atividades tiveram início no dia 13 de junho no município de Conceição de Feira no recôncavo baiano e se encerraram nesta terça-feira (01).
O EIVI é uma iniciativa do Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias (NEPPA) que este ano contou com o apoio do Grupo Interdisciplinar em Agroecologia (GAIA), Levanta Povo, MST e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
“Capacitar educadores populares que possam junto ao povo do campo agir no reconhecimento de suas maiores problemáticas e na organização de formas coletivas para superar esses desafios é um dos principais objetivos do EIVI”, afirma Davi Montenegro, integrante do NEPPA e estudante de Serviço Social da UFBA.
Foi pensando nestas questões que cerca de 80 pessoas, dentre elas, estudantes universitários, militantes de movimentos sociais, amigos e lutadores do projeto popular se envolveram em atividades teóricas e práticas para pensar e criticar o modelo social capitalista, compreendendo a necessidade da organização popular para a transformação desta sociedade.
Contextualizando sua inserção neste processo de formação Alana Lins, estudante de Ciências Sociais da UFBA, diz que “este espaço proporcionou um contato mais intenso e direto com a organização e a realidade dos movimentos sociais. Entender o MST é um horizonte, um espelho e um eixo de luta histórico para a classe trabalhadora e precisa ser usado a favor da luta popular”.
Metodologia
O estágio aconteceu em três momentos diferentes. O primeiro consistiu numa capacitação que foi estruturada em eixos de estudos, trazendo à tona questões da organização e relações sociais, a partir do acúmulo prático e teórico da classe trabalhadora.
Os eixos foram divididos nos seguintes temas principais: questão agrária, como funciona a sociedade capitalista, educação e poder popular, agroecologia, feminismo e a luta das trabalhadoras, e a questão de raça e etnias no Brasil.
Em seguida os estagiários foram divididos em Assentamentos rurais do MST e comunidades tradicionais do MPA para vivenciar a realidade do povo do campo, na perspectiva de acumular para o trabalho de base e de formar uma militância para as diversas organizações populares.
Cada estagiário foi adotado por uma família da comunidade e participaram do dia a dia desta família e da dinâmica das comunidades, compartilhando ideias, aprendendo e contribuindo com atividades coletivas.
Por fim, todos participaram de um espaço de avaliação para trazerem as reflexões e aprendizagens adquiridas em todos os momentos anteriores.
De acordo com Davi, “estes espaços, da teoria e da prática, são acúmulos históricos que a gente precisa estudar para poder entender a luta dos trabalhadores e trabalhadoras do campo”.
Organicidade
Organizados em grupos de trabalho titulados como brigadas, os estagiários realizaram as tarefas diárias, como: mística, alimentação, animação, segurança e limpeza.
Para além destas questões pontuais, são nestas brigadas que os estudos são realizados. Pensando nisto, as questões pontuadas são problematizadas de acordo com a realidade urbana e camponesa.
Todo este processo é inspirado na organicidade e no protagonismo dos movimentos sociais na luta por direitos.
Érica Anne. militante do MPA, acredita que este encontro foi um espaço para trocar experiências entre os estudantes e amigos com os movimentos sociais do campo. Para ela, “nossa organicidade, fundamentada na coletividade e solidariedade, é a base em que foi projetado este estágio”.
Próximos passos
Obede Guimarães, militante do MST, trouxe que “o EIVI é um método de conhecer o óbvio. Já que a universidade nos educa a não entender o que está diante de nossos olhos, de tentar teorizar sobre uma realidade ideal e culpar o mundo por não se adequar a teoria “arduamente” formulada. No caso do EIVI não, os participantes estudam a proposta de sociedade dos movimentos sociais, depois vivenciam a realidade que as lutas populares foram capazes de construir e então é chegado o momento de se perguntar: e agora, o que vem por ai?”
Ele acredita que uma vez desvelada à realidade, é preciso:
1. Fazer a defesa não romântica do movimento, entender as contradições, seja pelo machismo, pelo racismo e outras formas de opressão, mas sabendo que, diferente do povo não organizado, há um esforço de enfrentar esses problemas e superá-los para construir hoje a sociedade que queremos viver amanhã;
2. Os militantes dos movimentos sociais não são diferentes dos jovens que vieram para o estágio, eles apenas despertaram antes para a necessidade de transformar o mundo. Por isso também podemos despertar;
3. É preciso estudar o projeto de sociedade referenciado pela classe trabalhadora em todas as construções dos lutadores do povo (entender o anarco-sindicalismo, o leninismo, o zapatismo e outras) e não tratar as formas organizativas apenas como escolhas, e sim como construções de alternativas de acordo as condições históricas reais;
4. Vivenciar as coisas, por mais perdidos que possam estar, é preciso usar o método de conhecer o óbvio apreendido no estágio. Vá, pergunte, observe, estude, atue na realidade.
5. Enfrentar a família, com respeito às histórias de vida de nossas famílias, mas com certeza das escolhas que vamos fazendo a cada momento, para ir forjando pouco a pouco os valores solidários da classe trabalhadora em nossa prática cotidiana. Precisamos entender que para os filhos da classe trabalhadora eles precisam todos os dias decidir entre a individualidade ou o projeto coletivo, já para os filhos da classe média é possível escolher estar ou não com a classe trabalhadora;
6. É preciso partir para a ação. Se você estiver em dúvida, se coloque no meio do povo, é melhor errar com nosso povo, em luta, do que acertar longe do povo;
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