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Com base no tema: “Plano Camponês, Aliança Camponesa e Operária por Soberania Alimentar”, o I Congresso Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), foi cenário para construção de uma análise de conjuntura na tarde desta terça-feira, dia 13, no pavilhão Vera Cruz em São Bernardo do Campo, São Paulo.  Com a pretensão de discutir e refletir a atual conjuntura em que prevalece a luta da classe trabalhadora do campo e da cidade, o professor Guilherme Delgado e o representante da Direção Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, (MAB), Gilberto Servinski, conduziram os elementos, trazendo presente a configuração do atual momento histórico, bem como, o papel fundamental dos movimentos sociais do campo em defesa da vida e dignidade dos povos de todo o mundo.
Segundo o professor Guilherme Delgado, a classe trabalhadora do campo e da cidade vivencia uma situação crítica no país, que envolve a economia e a política especialmente dos movimentos agrários. Segundo ele, uma análise de conjuntura em um momento de crise é algo contraditório. “Ao mesmo tempo que ela causa desconforto pela situação de dificuldade, de desemprego pelo qual o país passa, ela também traz um sentido de esperança, expectativa, de mudanças”, reflete.
Com base em três pontos centralizadores: Crise econômica do agronegócio, conjuntura e mudanças climáticas e estado pelo qual as organizações do campo se encontram neste momento, Delgado redesenhou uma parte da história para avançar no debate junto as organizações presentes no congresso. Para o professor, a sociedade vive um processo de reversão do que teria sido inaugurado nos anos de 1999 a 2000. “Nesse período, havia uma política de agronegócio organizada pela e para a bancada ruralista que promovia fortes alianças para se manter. Esse cenário prevaleceu durante os quatro anos que se sucederam. Esse projeto envolveu muito poder econômico e também ideológico. Acreditava-se que o agronegócio seria a salvação da pátria porém, nos últimos três anos, ele apresenta uma séria deficiência”, explica.
O professor salienta que a crise econômica atual se apresenta como uma oportunidade de mudar a matriz produtiva incidente na degradação dos recursos naturais, que, conforme ele, são objetos de cobrança e disputa mundial e que por consequência, tem refletido em mudanças climáticas que resultam em um projeto negativo e contraditório para a vida de todas as pessoas.  “Neste final de ano acontece um momento muito importante que é a Conferência do Clima em Paris, onde se discutirá os efeitos de todas as mudanças que estão ocorrendo em nosso clima. Se nada for feito para reduzir, liquidar as ondas de emissão anual dos gazes, o problema enfrentado por nós será agravado. Esse assunto afeta o mundo inteiro e em particular, a economia camponesa”.
Outro elemento importante destacado pelo professor, tem ligação com a crescente mobilização das representações do mundo camponês. “Tivemos quatro conferências realizadas por entidades e movimentos do campo em curto espaço de tempo nos últimos anos, mesmo perante um tratamento de desprezo da mídia. Isso é importante e nos leva a interpretar que esse processo de mobilização, de resistência do campesinato, da diversidade, continua vivo e tem dado respostas políticas importantes para esse processo histórico vivenciado”.
Ainda, conforme Delgado, essa resistência que se apresenta por parte dos movimentos do campo precisa ser cultivada. “Precisa se fazer presente e cultivada em memória para que possamos ter outra perspectiva, outra maneira de ver o Brasil. Quando o povo se identifica com sua cultura, história a qual não é contada nos livros tradicionais resulta em formação de consciência, cidadania. Isso se transforma em bases alternativas para a saída da crise econômica, política e social que estamos inseridos”.
Em síntese, o professor sugeriu que os movimentos agrários se organizem no sentido de propor politicamente e tecnicamente ações consistentes. Ele destacou também o que já tem sido realizado pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que é a autonomia da organização na questão energética e produção de energia com base em recursos naturais e a produção de alimentos saudáveis, sem o uso de agrotóxicos.
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A crise é dos Capitalistas, não da classe trabalhadora explorada
Outra análise importante realizada na mesma tarde, feita pelo representante da Direção Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Gilberto Servinski, é inspirada em quatro eixos centrais: Cenário mundial da economia, situação brasileira, importância do momento histórico para aprofundar o jogo feito em torno do petróleo brasileiro e visualização do atual cenário do campo.
Servinski também enfatizou que o atual momento histórico aponta para grandes desafios ao mesmo tempo que aproxima o retrocesso das massas sociais. “A história nos mostra isso. Em períodos onde a crise profunda ocorreu, os trabalhadores lutaram para resolver seus problemas históricos, ao mesmo tempo em que nessa sociedade, dividida em classes, os capitalistas se apresentam de forma mais violenta contra o povo. Eles passam a utilizar uma série de medidas para aumentar a exploração sobre a classe que trabalha. Portanto, essa crise não é uma crise onde os culpados são os trabalhadores, mas sim, uma crise causada pelos capitalistas”.
Servinski salienta que a atual crise afeta principalmente os países mais ricos, que historicamente se diziam ser ‘exemplo’ para o mundo. “A Europa é o país que está em maior crise econômica. A cada dois jovens um está sem emprego, como é o caso da Espanha e vários outros países. Podemos dizer que países centrais do capitalismo são afetados pela crise, como Japão e Estados Unidos. A mesma crise que começa a chegar agora nas periferias do capitalismo, em países da América Latina, os que antes eram chamados de subdesenvolvidos”.
O representante da Direção Nacional do MAB reforça que a crise está baseada em um conjunto de empresários que não estão conseguindo lucrar. Ele destaca que a grande fonte de produção de riqueza é o trabalhador\a. “Quando a ‘crise’ afeta esses empresários o que eles fazem? Retiram o direito dos trabalhadores\as, aumentam sua jornada de trabalho, fazem o trabalhador acumular funções dentro de uma crise que é deles e não nossa”.
Servinski aponta para um forte interesse das grandes potências em explorar o petróleo brasileiro. “A derrubado do preço do petróleo beneficia os grandes países. Os EUA por exemplo, pegavam o petróleo para produzir mercadorias para as indústrias deles, diferente da Venezuela que utilizava o lucro transformando-o em programas de melhoria da qualidade de vida do povo”.
A intenção dos capitalistas em privatizar o Brasil também foi ressaltada por Servinski. Segundo ele, a derrota do PSDB nas últimas eleições simbolizou um forte ataque ao país. “Nos colocaram em uma crise política e através disso fizeram com que o governo tomasse medidas econômicas para agravar a crise econômica e ocasionar uma luta ideologia com o povo. A política econômica da presidente Dilma nós não elegemos.  Isso porque o atual congresso é o congresso de empresários, é privatizado. ‘Lenin’ dizia que o parlamento é um espaço de canalhas. Age contra seu povo e seu país”.
Assalto ao Petróleo Brasileiro
Servinski alerta ainda para um possível ataque ao petróleo brasileiro com base na proposta da operação Lava Jato. “Não se iludam que a ‘Lava Jato’ quer resolver a corrupção. Na verdade, o interesse por trás é assaltar o petróleo brasileiro. Em 2006, o Lula foi inaugurar a descoberta do pré-sal, e o Brasil se tornou um dos países do mundo com mais petróleo. Possui uma reserva embaixo do mar que vai desde Santa Catarina, até o Espírito Santo. No ritmo que estamos, teremos petróleo para 180 anos no Brasil, o que caracteriza 176 bilhões de barris, e pode chegar a 273 bilhões. O Brasil só vai perder para Venezuela que tem 300 bilhões, além da Arábia Saudita, Irã e Iraque. O Brasil vai se tornar a terceira maior reserva de petróleo do mundo”.
Em uma comparação mundial, segundo Servinski, Estados Unidos e Europa não possuem petróleo. “Os E.U.A possuem petróleo para mais 10 anos apenas. Eles olham para as reservas brasileiras porque querem tomar esse petróleo. Por isso também estimulam guerras no Oriente Médio para tomar o Petróleo. Eles querem o pré-sal brasileiro. Entendemos que o pré-sal pode resolver os problemas do povo, da reforma agrária, educação, porque aqui foi criada a lei de partilha, de divisão do lucro. Uma parte do lucro vai para Petrobrás e outra vai para saúde e outros programas. Eles não querem aceitar isso. Querem que o lucro seja transferido para os empresários”, explica.
Ainda segundo o representante do MAB, um dos grandes desafios das organizações sociais é defender os recursos naturais e garantir respostas políticas para o projeto de morte que vem se construindo pelo capitalismo há muitos anos. “O inimigo dos camponeses, do povo em geral hoje é o capital. Dominam desde as sementes até o comércio. A tarefa é grande, mas precisa estar em braço firme dado com os operários\as, trabalhadores\as da cidade. Por isso, o Congresso Nacional do MPA se faz necessário, para reunir o povo em discussão, diálogo, reflexão sobre a conjuntura, para então criar alternativas concretas de transformação”, finaliza.
Por Comunicação do I Congresso Nacional do MPA