A Via Campesina mostra o seu
compromisso com a elaboração com o tratado vinculado. Exposição de Federico
Pacheco, SAT – Via campesina.
A Via Campesina, como organização
internacional das pessoas campesinas e trabalhadoras rurais em geral, vem
defendendo desde más de duas décadas a sobrevivência da agricultura e do gado
campesinos em todo o planeta, assim como a pesca artesanal, as comunidades
indígenas e a sustentabilidade no uso dos recursos naturais e energéticos.
Estamos sofrendo desde mediado do
século passado um progressivo desaparecimento das pequenas explorações agrarias
em benefício de um sistema agroindustrial baseado na produção e comercialização
de grande escala, a contaminação da natureza, o desperdício energético e o
aquecimento global, assim como a exploração da mão de obra de trabalhadores e
trabalhadoras. A desarticulação e destruição do mundo rural traz vinculado o
desemprego, miséria, fome, deslocação e emigração forçada em todo o planeta.
O papel das empresas
transnacionais tem sido e é determinante nesse processo. Desde a chamada
revolução verde, em que os adubos e pesticidas químicos começaram a envenenar
as terras, as águas e as pessoas, juntamente produziam enormes benefícios para
as grandes companhias internacionais, até mais de duzentos milhões de hectares
monopolizadas nos últimos anos por fundos de pensões e sociedades
multinacionais.
Assistimos também um processo de
concentração desenfreada no qual pouquíssimas corporações controlam os mercados
mundiais de sementes, praguicidas e agroquímicos entre outros, assim como a
determinação dos preços. Os tratados de livre comercio estão vindo para
facilitar ainda mais sua ação ao limitar e anular qualquer política pública que
prejudique seus interesses. A imposição de aberturas de fronteiras, paraísos
fiscais e tribunais de arbitragem, têm criado uma rede jurídico-político que
garante sua impunidade e faz impossível conseguir reparações frente aos
desastres meio ambientais e sociais que produzem.
Ainda nesta difícil situação
constatamos que a maior parte da população mundial vive no meio rural e que é a
agricultura camponesa, a través de uma distribuição local, que provem a maior
parte dos alimentos da população, gerando emprego e protegendo a
biodiversidade. Desde a via campesina e muitas outras organizações, estamos
apostando pelo princípio dos direito humanos dos povos e das pessoas, sobre os
interesses e o lucro das grandes empresas. Nesse sentido estamos impulsionando
o marco das nações unidas à declaração dos direitos camponeses ao fim de garantir,
defender e promover os direitos à soberania alimentar, o acesso aos recursos
naturais e produtivos, aos mercados locais, a economia e serviços dignos para
produtores e trabalhadores rurais em geral.
Sem embargo, nem esta declaração
nem o importante acervo normativo internacional elaborado sobre os direitos
humanos terá nenhuma eficácia se não regular de maneira vinculada a atividade
das empresas transnacionais e se devolver a soberania e autodeterminação aos
estados e povos, assim como o respeito dos princípios de multilateralidade e
supremacia dos direitos humanos.
Os camponeses e camponesas de
todo o mundo estamos sofrendo a impunidade dessas empresas ante a privação e
contaminação de nossas sementes, a desapropriação de nossas terras, a intoxicação
de nossos povos a criminalização e assassinato dos nossos dirigentes quando
enfrentam as mesmas, quando denunciam seus crimes o exigem reparações.
E isso é assim, porque estas
corporações com mais poder que muitos estados, utilizam eficazmente mecanismos
de todo tipo para evitar o cumprimento das leis e inclusive de sentenças
judiciais de nível nacional e internacional. Temos experimentado também como
compromissos sociais e ambientais assumidos por estas grandes empresas de
maneira voluntaria que funcionam como um elemento de marketing e lavado de
imagem como objetivo de evitar perdas e ampliar mercados e benefícios.
Necessitamos de maneira urgente
um instrumento, específico para as empresas transnacionais, vinculado e de
cumprimento obrigatório, que permite a aos estados as nações unidas de
controlar, limitar e fazer respeitar os direitos humanos. Desde a via campesina
encorajamos aos estados a retomar o espírito da carta das nações unidas e
defender os interesses e direitos dos seus povos, incluindo os do mundo rural,
sobre as pressões e interesses das grandes corporações.
Por Via Campesina
Tradução MPA
0 comentários
Deixe aqui seu comentário: