O governo e setores da grande mídia
estão instalando um clima de terrorismo no país e fazendo uma tremenda lavagem
cerebral na população, afirmando que se a PEC 241 não for aprovada o Brasil
“quebra”, usando ainda o óbvio discurso de que é necessário controlar gastos.
Óbvio! Afinal, quem seria contra controlar gastos?
As questões que não enfrentam
são: O que está “quebrando” o Brasil? Que gastos estão de fato precisando ser
controlados? O que a PEC 241 pretende fazer? O que está por trás dessa PEC 241?
Por que não são enfrentadas as amarras que impedem que o Brasil, o país da
abundância, garanta vida digna para todas as pessoas? É disso que vamos tratar
nesse breve artigo.
O que está “quebrando” o
Brasil?
O Brasil tem sido violentamente
roubado pelo Sistema da Dívida.
Todos os anos, centenas de
bilhões são subtraídos do orçamento federal para o inconstitucional pagamento
de grande parte dos juros nominais – os mais elevados do mundo – e sequer
sabemos quem são os credores, pois essa informação é sigilosa.
Mais algumas centenas de bilhões
de reais vazam do orçamento para remunerar a sobra de caixa dos bancos, nas
questionáveis operações denominadas “compromissadas” que já superam R$ 1
trilhão. Também não são revelados os beneficiários dessa despesa estimada em
quase R$ 200 bilhões em 2015.
Outras centenas de bilhões de
reais do orçamento federal se destinaram a cobrir prejuízos da política
monetária suicida do Banco Central, tais como as bilionárias perdas com a farra
dos contratos de swap cambial nos últimos anos (cujos beneficiários também são
sigilosos); os prejuízos escandalosos de R$ 147,7 bilhões em 2009; R$48,5
bilhões em 2010, entre outros. Todos esses prejuízos do BC são transformados em
“dívida pública”!
Também foram transformados em
“dívidas públicas” montantes bilionários de dívidas privadas, dívidas
prescritas e até passivos de bancos. Adicionalmente, diversas ilegalidades,
ilegitimidades e até fraudes comprovadas inclusive por Comissões do Congresso
Nacional fazem parte da chamada dívida pública desde a década de 70, passando
por sucessivos governos desde então.
Esses mecanismos perversos e
obscuros que “geram dívida pública” constituem a principal causa da crise
fiscal que estamos enfrentando no país, pois a partir do momento em que a
dívida é gerada, sobre ela passam a incidir os juros mais elevados do planeta,
que são arbitrados pelo Banco Central.
O gasto com o Sistema da Dívida
tem consumido quase a metade do orçamento federal anualmente, conforme dados
oficiais. Em 2015, foram destinados 42,43% do Orçamento Geral da União, ou
seja, R$ 962.210.391.323,00 para juros e amortizações:
Grande parte desse pagamento é
inconstitucional, pois decorre de manobra que contabiliza expressiva parcela
dos juros nominais como se fosse “amortização”, burlando o disposto no art.
167, inciso III, da Constituição Federal, conforme denunciado pela CPI da
Dívida Pública desde 2010 .
Apesar dessa sangria, a dívida
vem aumentando continuamente. Em 2015, por exemplo, a dívida pública federal
interna aumentou R$ 732 bilhões, saltando de R$3,204 trilhões para R$3,937
trilhões em apenas 11 meses (31/01 a 31/12), conforme publicado pelo Banco
Central .
Esse crescimento brutal da dívida
não teve contrapartida alguma em investimentos efetivos, que ficaram restritos
a apenas R$ 9,6 bilhões em 2015.
Toda a economia real encolheu em
2015. Passamos por preocupante processo de desindustrialização; queda no
comércio; desemprego recorde, arrocho salarial e até o PIB do país diminuiu
3,8%, porém, os lucros dos bancos cresceram como nunca, conforme dados do
próprio Banco Central:
Os bancos auferiram lucros de
R$96 bilhões em 2015, ou seja, 20% a mais do que haviam lucrado em 2014, e esse
lucro teria sido 300% maior se não tivessem feito a “reserva para créditos
duvidosos” de R$183,7 bilhões:
O estratosférico lucro dos bancos
quando toda a economia do país despenca é uma evidência de que está ocorrendo uma
transferência de renda para o setor financeiro privado. A engrenagem que
promove isso é o Sistema da Dívida, ou seja, a utilização do endividamento
público às avessas; em vez de representar ingresso de recursos para
investimentos geradores de desenvolvimento socioeconômico, tem servido para
alimentar os mecanismos de política monetária suicida do Banco Central que, ao
mesmo tempo, transferem bilhões aos bancos privados e geram dívida pública para
toda a sociedade pagar…
Assim, o que está “quebrando” o
Brasil é essa contínua sangria de quase metade do orçamento federal,
anualmente, para o pagamento de juros extorsivos ao setor financeiro e a
sigilosos investidores, incidentes sobre “dívidas” geradas sem contrapartida
alguma, fruto de transformação de centenas de bilhões de reais de prejuízos da
política monetária do Banco Central em “dívida pública”, além de outras
operações ilegais e ilegítimas.
Nessa circunstância, surge a PEC
241, cujo objetivo explícito, mascarado de controle de gastos, é sacrificar todas
as demais rubricas orçamentárias para destinar mais recursos ainda para essa
chamada “dívida pública”, que nunca foi objeto de uma auditoria, como manda a
Constituição Federal.
O que a PEC 241 pretende
fazer?
Usando o óbvio discurso de que é
necessário controlar gastos, a PEC 241 libera recursos à vontade, sem teto e
sem limite, para o Sistema da Dívida.
A causa da explosão da dívida
pública não tem sido, de forma alguma, um suposto exagero dos investimentos
sociais (previdência, pessoal, saúde, educação, etc.), mas sim, a incidência de
juros abusivos e a prática de questionáveis operações financeiras que
beneficiam somente aos sigilosos investidores privados, gerando dívida pública
sem contrapartida ao país.
Cabe registrar que no período de
2003 a 2015, acumulamos “superávit primário” de R$ 824 bilhões , ou seja, as
receitas “primárias” (constituídas principalmente pela arrecadação de tributos)
foram muito superiores aos gastos sociais, tendo essa montanha de dinheiro sido
reservada para o pagamento da questionável dívida pública. Apesar do contínuo
corte de investimentos sociais imprescindíveis à população, a dívida pública se
multiplicou, no mesmo período, de R$ 839 bilhões ao final de 2002 para quase R$
4 TRILHÕES ao final de 2015 .
O relator da PEC 241/2016
“assinala que a Dívida Bruta do Governo Geral aumentou de 51,7% do PIB em 2013
para 67,5% do PIB em abril de 2016”, porém, não menciona as razões desse
aumento, que não teve absolutamente nada a ver com os gastos sociais que essa
PEC vai congelar por 20 anos, mas sim com o que ela deixa de controlar: os
juros abusivos e os mecanismos financeiros ilegais que estão gerando dívida
pública.
A PEC 241 pretende:
• Agravar ainda mais o privilégio
da chamada “dívida pública” no orçamento federal, na medida em pretende
congelar a destinação de recursos para todas as demais rubricas orçamentárias
por 20 anos(!) para que tais recursos destinem-se à dívida pública;
• Amarrar todas as possibilidades
de desenvolvimento socioeconômico do Brasil, devido ao aprofundamento do
cenário de escassez de recursos para investimentos, ao mesmo tempo em que
aumentará a transferência de recursos para o setor financeiro;
• “Legalizar” a burla que vem
sendo praticada desde o Plano Real ao art. 167, inciso III, da Constituição
Federal , na medida em que permitirá a destinação de toda e qualquer parcela de
recursos para a chamada dívida pública;
• Deteriorar fortemente o
atendimento aos direitos sociais no Brasil, 9a economia mundial que já amarga a
vergonhosa 75a posição no ranking dos direitos humanos, segundo o IDH medido
pela ONU;
• Privilegiar esquema fraudulento
que está sendo implantado no país, mascarado da falsa propaganda de venda de
créditos incobráveis (como a Dívida Ativa) que na realidade não saem do lugar e
continuam sendo cobrados pelos órgãos competentes, tendo em vista que essa PEC
241 deixa fora do congelamento a destinação de recursos para “empresas estatais
não dependentes” que operam esquema semelhante ao que quebrou a Grécia;
• Manter a gastança irresponsável
com os maiores juros do mundo, incidentes sobre dívidas ilegais, ilegítimas e
até fraudes denunciadas por diversas comissões do Congresso Nacional, e que
nunca foram submetidas à auditoria prevista na Constituição.
A PEC 241 não irá resolver o
problema do país, mas representará privilégio brutal para o setor financeiro
privado e investidores sigilosos. É evidente que o gasto que precisa ser
controlado no Brasil é o gasto com essa chamada “dívida pública”. Mas a PEC 241
faz o contrário.
O que está por trás dessa PEC
241?
Além de privilegiar a chamada
“dívida pública” e continuar alimentando cada vez mais o Sistema da Dívida às
custas do sacrifício de todas as demais rubricas orçamentárias, a PEC 241
privilegia esquema fraudulento semelhante ao que quebrou a Grécia .
Bem escondido no texto proposto
pela PEC 241/2016 para o Art. 102, inciso V, parágrafo 6o, inciso IV do ADCT,
encontra-se o privilégio de recursos, à vontade, sem teto e sem limite, para
“empresas estatais não dependentes”.
Enquanto as empresas estatais
estratégicas e lucrativas vêm sendo privatizadas há 20 anos no Brasil, estão
sendo criadas em diversos estados e municípios, “empresas estatais não
dependentes” que emitem debêntures com desconto brutal e pagam juros estratosféricos,
com garantia estatal.
A empresa PBH ATIVOS S/A, por
exemplo, foi criada por lei votada na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte ,
com um capital autorizado de R$100.000,00. No entanto, R$100.000,00 corresponde
ao valor de cada uma das debêntures emitidas por essa empresa, como demonstra
informação extraída de sua página na internet:
Essas “empresas estatais não
dependentes” são pessoas jurídicas de direito privado e operam escandaloso
esquema de transferência de recursos públicos para o setor financeiro privado,
tendo em vista que vendem, a investidores privilegiados, com desconto que pode
chegar a 60%, debêntures com garantia real (dada pelos entes federados),
pagando juros estratosféricos que podem ultrapassar 20% ao ano.
O rombo será enorme e, por
tratar-se de empresas estatais, os entes federados serão chamados a honrar a
garantia dada, gerando assim grandes volumes de obrigações onerosas que
configuram dívida pública. Assim, esse mecanismo abusivo e inconstitucional
gera dívida pública sem contrapartida alguma.
Esse esquema está mascarado por
sedutora propaganda de que entes federados poderiam “vender”, “ceder” ou
“novar” direitos de créditos de Dívida Ativa de difícil arrecadação.
Na prática, tais créditos
continuam sendo cobrados por órgãos competentes (Procuradorias de Fazenda), e o
que está sendo cedido de fato, pelos entes federados a “empresas estatais não
dependentes”, é meramente uma garantia onerosíssima, sem contrapartida alguma,
o que é ilegal! Os projetos de lei PLS 204/2016, PLP 181/2015 e PL 3337/2015
que tramitam no Congresso Nacional visam “legalizar” esse esquema, que irá
provocar um enorme rombo nas contas públicas.
Esse negócio entrou no país por
meio de consultorias especializadas, como a ABBA Consultoria e Treinamento por
exemplo. O Sr. Edson Ronaldo Nascimento, responsável da ABBA, é também
assistente consultor do FMI, Presidente da PBH Ativos S/A (empresa estatal não
dependente de Belo Horizonte); Superintendente Executivo da Secretaria de
Fazenda do Estado de Goiás; Secretário de Fazenda do Estado de Tocantins, entre
outros cargos estratégicos ocupados no Distrito Federal e Secretaria do Tesouro
Nacional. Assim o esquema ilegal se alastra.
É infame que a mesma PEC que
engessa por 20 anos investimentos sociais em saúde, educação, assistência etc.
privilegie a destinação de recursos à vontade, sem limite e sem teto algum,
para alimentar esse esquema ilegal que gera dívida pública sem contrapartida,
semelhante ao que quebrou a Grécia.
Por que não são enfrentadas as
amarras que impedem que o Brasil, o país da abundância, garanta vida digna para
todas as pessoas?
O Brasil é atualmente a 9a maior
economia mundial e nossa realidade é de extrema abundância. O Brasil detém, por
exemplo:
– A maior reserva de nióbio
do mundo, mineral estratégico, empregado em aeronaves, satélites espaciais, usinas
nucleares e equipamentos de última geração. O Canadá possui apenas 2% das
reservas mundiais de nióbio e, com esse recurso, garante saúde e educação
pública, gratuita e de excelente qualidade para a sua população. O Brasil
possui 98% das reservas. A exploração atual é feita principalmente em Minas
Gerais de maneira totalmente opaca, por empresa particular, embora a
Constituição Federal estabeleça que os minerais são bens da União ;
– A terceira maior reserva de
petróleo;
– A maior reserva de água potável;
– A maior área agriculturável e
clima favorável, permitindo a produção de alimentos durante os 12 meses do ano;
– Riquezas minerais diversas e
Terras Raras que só existem em nosso País;
– Riquezas biológicas: fauna e
flora de incontáveis espécies;
– Extensão territorial
continental, com a população plenamente integrada, pois falamos o mesmo idioma;
– Potencial energético,
industrial e comercial;
– Imensa riqueza humana e
cultural.
Possuímos também riquezas
financeiras: Reservas Internacionais de US$ 375 bilhões; montante de R$1
trilhão esterilizado no Banco Central (operações compromissadas), e sobra de R$
480 bilhões em 2015 …
Nossa realidade de abundância
nada tem a ver com o escandaloso cenário de escassez a que temos sido
submetidos, com desemprego recorde, falta de recursos para o atendimento às
necessidades sociais básicas e desarranjo econômico que tem levado ao
encolhimento do PIB do gigante Brasil.
Esse cenário de escassez tem sido
sustentado pelo modelo econômico concentrador de renda e riqueza que favorece
atores privilegiados instalados no sistema financeiro privado e grandes
corporações por meio de vários esquemas, como o Sistema da Dívida, o modelo
tributário regressivo, a predatória exploração ambiental e ecológica, a
desordenada política agrícola, sem falar nas brechas para o avanço dos lucros
na exploração privada dos serviços de saúde, educação e previdência à medida em
que tais serviços são sucateados por falta de recursos na rede pública.
Em vez de desmontar esse cenário
de escassez e corrigir as distorções que tornam o gigante Brasil um dos países
mais injustos do mundo, a PEC 241 aprofundará fortemente esse inaceitável
cenário, inserindo no texto constitucional, por 20 anos, o favorecimento ainda
mais escandaloso aos interesses sigilosos que usurpam nossas riquezas e impedem
o nosso desenvolvimento socioeconômico.
A PEC 241 está roubando você e o
país que você poderia e deveria ter. É urgente denunciar esse verdadeiro crime
de lesa Pátria, enfrentar essas amarras que impedem o nosso desenvolvimento
socioeconômico, a fim de garantir vida digna para todas as pessoas.
Por Maria Lucia Fattorelli – Auditoria Cidadã
da Dívida
Para Brasil de Fato
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