“Um pouco menos… Um pouco mais…Vivem aqueles que não lutam. Mas os que lutam, Não são medidos pelo tempo; Nem mais, nem menos: São eternos….” foram com essas doces palavras que o militante Ademar Bogo  a exatos seis anos, dava-se a amarga notícia da partida física dos companheiros Derli e Izabel,  militantes do MPA, vítimas de um  trágico acidente de carro, na cidade de Seabra -BA, para o Movimento dos Pequenos Agricultores a dor da partida desses grandes companheiros, só fez aumentar a necessidade de lutar pela transformação social, e mais do que nunca tem certeza que as duas sementes plantadas mesmo que de forma tão inesperada naquela noite escura de 30 de abril, seguem frutificando em cada canto desse país.
Derli Casali e Maria Izabel trajetórias diferentes de uma mesma luta
Derli Casali, nasceu em 1954, natural do Espirito Santo, começou sua militância logo quando jovem, quando já se indignava com a desigualdade social nas terras capixabas, Derli buscou na teologia da libertação os elementos para ajudar a organizar o povo, foi perseguido pela UDR (União Democrática Ruralista) e nos tempos de regime militar foi ameaçado de morte por muitas vezes. Foi padre durante cerca de cinco anos no ES, ajudou na construção do PT e do MST, contribuiu por muito tempo como agente da Comissão Pastoral da Terra.
Depois de deixar o sacerdócio, Derli seguiu firme na luta pelos direitos dos camponeses, e continuou sua trajetória na construção e no fortalecimento do MPA, contribuiu com a organização a nível nacional, passando seus últimos três anos no estado do Pernambuco.
Apesar de seus cabelos grisalhos Derli carregava uma força e uma disposição que assustava a quem não o conhecia, Derli apostava fortemente na educação popular como construtora da liberdade, reafirmando isso em um de seus tantos escritos “O papel fundamental da educação popular é o de alimentar o projeto revolucionário. Partindo deste princípio, o papel do educador revolucionário é o de reinventar o ser humano, de (re)projetá-lo. Não podemos esquecer que toda luta que se afirma revolucionária tem a necessidade de estar se reinventando sempre, redesenhando o mapa da humanização…”.
Já Maria Izabel carregava a juventude no corpo e no espírito, nascida em 1981, tinha em seu semblante a luta e a determinação do povo nordestino, natural do Estado de Sergipe, sempre se  mostrava disposta a qualquer momento para contribuir na organização do povo, ajudou a construir o MPA em seu estado de origem assim como em todo o nordeste e fazia parte da coordenação nacional do Movimento, as palavras de Daniel Resende, educador popular da Rede de Educação Cidadã de Sergipe ilustram a grande companheira “Eras sorridente em teu desencontro das arcadas dentárias, sendo o mais sincero e singelo sorriso que nos apaziguava.”
Assim como Derli Maria Izabel participou diretamente das lutas contra a transposição do Rio São Francisco Um marco importante na defesa do Semiárido e desse grande rio, Izabel fez greve de fome junto a Frei Luiz Cappio em 2005. Não hesitava em momento algum e jogava-se na luta que a chamava.
Pelo direito à Memória dos lutadores e lutadoras camponesas
Para o MPA o dia 30 de abril passou a representar  um marco histórico das lutas camponesas do movimento, desde então o MPA assume essa data como “Dia Nacional da Memória Camponesa”, um momento de homenagear os camponeses e camponesas que dedicaram suas vidas por completo pelas lutas populares, que são esquecidos pelo Estado e ignorados pela mídia, é o que afirma Anderson Amaro da coordenação nacional do MPA, “Derli e Isabel, como bons semeadores de uma utopia necessária, não tinham limites para lutar em defesa da classe camponesa, sempre estiveram no fronte das lutas buscando a igualdade soberana para todas e todos. E como bons semeadores, deixaram e viraram sementes com suas práticas revolucionarias, e seu exemplo de vida, que hoje seguimos a colher muitos dos frutos, das sementes germinadas, é nossa responsabilidade garantir que a memória e o exemplo revolucionário desses dois companheiros permaneçam vivos em nossa pratica diária”, afirma Anderson.
Durante todo o dia camponeses e camponesas de todo o Brasil, realização ações de solidariedade e rendem homenagem, aos companheiros e companheiras de luta. Relembram a importância da luta de Derli e Izabel nos espaços de secretaria, reuniões e seminários, gritos de ordem, fotos e poemas reafirmavam o compromisso com a luta que esses grandes companheiros defenderam com convicção, garra, e muito amor.


Por Comunicação MPA