Nos últimos 16 anos, foi implantado no Brasil um novo modo de organização capitalista no campo, estreitamente vinculado com o setor financeiro, que passou a controlar a produção de alimentos, em especial, a produção de grãos. Esse modelo avançou sobre territórios tradicionais camponeses, indígenas e de outras comunidades, exigindo da parte dessas populações novas formas de organização e luta. Um dos protagonistas dessa luta no Rio Grande do Sul, Frei Sérgio Gorgen decidiu reunir textos que escreveu ao longo destes 16 anos para registrar essa mudança de fase na agricultura brasileira e, principalmente, as lutas de sem terras e pequenos agricultores que resistiram ao avanço do chamado agronegócio e vem construindo formas alternativas de produção e organização no campo.
Foto: Guilherne Santos/Sul21
O livro “Trincheiras da Resistência Camponesa. Sob o pacto de poder do agronegócio” (Instituição Cultura Padre Josimo) foi lançado na noite desta quarta-feira (16), no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários), com a presença de representantes de movimentos sociais, partidos e sindicatos que vêm participando e apoiando o movimento de resistência registrado na obra. “Uma das características centrais desse novo pacto de poder político no campo é um intenso processo de concentração de terras. O que é chamado hoje de agronegócio é a expressão desse pacto de poder”, assinalou Adalberto Martins, do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Foto: Guilherme Santos/Sul21
O deputado estadual Edegar Pretto (PT), presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, recordou que, desde criança, passou a conviver com a presença de Frei Sérgio dentro de casa, em inúmeras reuniões e conversas com seu pai Adão Pretto. “Foram os primeiros passos do MST”, lembrou. Presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul (CUT-RS), Claudir Nespolo, lembrou a solidariedade da classe trabalhadora urbana neste período de luta no campo, destacando que essa aliança deverá se estreitar ainda mais no presente para enfrentar o golpe contra a democracia e os direitos em curso no país.
Frade franciscano da Ordem dos Frades Menores do Rio Grande do Sul e militante há mais de 35 anos junto aos movimentos camponeses, Frei Sérgio destacou que o livro tem um objetivo central: reunir registros desse período para não deixar que a história dessas lutas caia no esquecimento. “O campesinato se acostumou a transmitir seus conhecimentos pela oralidade. Trata-se de um conhecimento riquíssimo. Cada vez que morre um camponês, é como se perdêssemos uma biblioteca”, disse. O autor destacou ainda a importância de deixar essa história registrada para que a juventude do presente possa ter essa referência nas lutas do presente. “Teremos dias difíceis pela frente. Os velhos fascistas do nosso tempo foram derrotados. Eles tentam agora sobreviver nesta nova geração. Caberá a vocês derrotá-los”, afirmou dirigindo-se a militantes do Levante Popular da Juventude que participaram do ato de lançamento do livro.
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Frei Sérgio defendeu ainda que, no cenário político que se configurou após o golpe, principal protagonismo estará não com os partidos políticos, mas sim junto à esquerda social, com seus movimentos sociais e organizações de base. “Esse livro é um esforço de reunir o que foi escrito no período entre 2000 e 2016 no calor dos acontecimentos. Tem gente que diz que esse livro é panfletário. E é mesmo. Ele é um esforço de memória para ajudar as lutas do presente e do futuro. O agronegócio não é só um nome fantasia, mas sim a expressão de um novo pacto de poder onde a produção no campo ficou passou a ficar totalmente subordinada ao capital financeiro. Precisamos entender como isso ocorreu e suas implicações”.
Publicado pela editora do Instituto Cultural Padre Josimo, o livro pode ser adquirido através do site http://padrejosimo.com.br/loja ou solicitado pelos telefones (51) 3228-8107, (55) 55 3281-4820 ou (55) 99638-4941.

Por Marco Weissheimer – Sul21