O sociólogo Jean Ziegler no seu
magnífico livro Destruição em Massa Geopolítica da Fome, descreve como o
capital financeiro e o império planetário de transnacionais do agronegócio
destroem as agriculturas camponesas em todo mundo levando a desnutrição, a fome
e a morte a centenas de milhões de pessoas.
No Brasil pós golpe, os aviltadores
que ascenderam ao poder em 2016 fazem vicejar política de igual impacto. A
pergunta é quanto tempo levarão para destruir o país e o valor do povo
brasileiro?A depender da política predatória que transformou o Brasil num banquete
para o capital financeiro internacional, não serão necessários mais que dois
anos.
Símbolos caros e raros que cimentam a
identidade nacional, as rarefeitas conquistas da constituinte construídas pelo
sacrifício, suor e luta da classe trabalhadora, estão em franco processo de
destruição.
Na medida que a entrega do Pré-sal, o
desmonte da Petrobras e a privatização da Eletrobrás e estrangeirização da
terra ameaçam a soberania energética e nacional, e a Reforma Trabalhista e uma
possível Reforma da Previdência reduzirão a pó as conquistas trabalhistas; a
destruição das políticas sociais e dos direitos dos camponeses e povos
tradicionais levarão as camadas populares a conviver sistematicamente com a
fome e ameaçam a soberania alimentar do Brasil.
O campesinato brasileiro se formou abaixo de muita
luta e sempre foi impedido pelas elites seu acesso à terra e a políticas de
Estado que potencializassem suas capacidades produtivas, sociais e políticas
nos biomas e regiões em que se constituiu.
Os camponeses e camponesas do Brasil
fazem muito com pouco: carregam a soberania alimentar nas costas, produzem em
diversidade e qualidade alimentos que tornam a mesa brasileira essa riquíssima
experiência culinária e cultural, sua economia sustenta milhares de pequenos municípios
brasileiros e marcam a cultura do Brasil profundo, cuidam do meio ambiente, do
solo, da água e são os maiores guardiões da biodiversidade e criadores de
agrobiodiversidade.
Não fazem mais pois possuem apenas
24% das terras agricultáveis, e acessavam 14 % do crédito oficial. Com tão
pouco produzem 70% dos alimentos e geram 74 % dos postos de trabalho no campo.
Essa riqueza está ameaçada.
As já escassas e insuficientes
políticas capitaneadas pelo extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)
foram completamente solapadas do orçamento 2018: Assistência Técnica e Extensão
Rural, Programa de Aquisição de Alimentos, recursos para obtenção de terras
para fins de “Reforma Agrária”, recursos do Pronera entre outros contarão com
recursos que assemelham-se ao escárnio para as populações do campo.
A manutenção deste quadro levará a
desestruturação dos sistemas camponeses de produção – nos níveis de unidade de
produção, agroindústrias familiares e cooperativadas, acesso a mercados –,
igualmente vai agudizar a concentração da terra criando o ambiente político
para escalada da violência no campo, principalmente contra indígenas,
quilombolas e sem-terras que ocupam áreas de interesse do grande capital.
O resultado é o espectro da fome
voltar a rondar a sociedade brasileira e a migração em massa dos camponeses
para as cidades. A primeira, ameaça um dos diretos mais básicos do ser humano,
o direito à alimentação, principalmente às crianças; o segundo ameaça de
colapso as cidades, ou alguém concebe mais de 30 milhões de pessoas migrando
para as cidades?
Este quadro não será imposto sem
lutas por parte das populações camponesas e dos povos tradicionais. O campesinato
brasileiro e suas organizações sabem de suas responsabilidades para com o
Brasil – a destruição em massa ora em curso, busca também destruir os valores e
o caráter daqueles que podem suportar material e espiritualmente um novo
projeto de Brasil –, e não vão se comportar como hordas de garimpeiros
descompromissados.
Contudo, em suas lutas, o campesinato
choca-se contra forças poderosas manifestas pelo agronegócio – latifundiários,
agroindústria transnacional, mídia, Estado, cooptação acadêmica e o capital
financeiro –, que conforma um pacto de riqueza e poder na sociedade brasileira.
Nesta quadra histórica a sociedade
urbana, de modo especial trabalhadores dos mais diversos setores, movimento
estudantil e os intelectuais devem não apenas apoiá-los em suas lutas, devem
tomar partido da luta pelo Plano Camponês e a Reforma Agrária Popular
conformando igualmente um bloco capaz de fazer oposição ao agronegócio.
A luta por Agroecologia e Soberania
Alimentar é tarefa de todo povo!
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** Marcelo Leal e Humberto Palmeira militantes do
Movimento dos Pequenos Agricultores/ Via Campesina
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