O primeiro, de propriedade, produção, pesquisa, assistência técnica, apropriação da natureza e de modelos tecnológicos. A hegemonia tem sido do latifúndio, da dependência tecnológica, do uso intensivo de insumos externos, da monocultura voltada para o mercado externo e do controle da indústria sobre a produção primária.
A agricultura camponesa, porém, tem resistido bravamente ao longo da história do Brasil produzindo em pequenas áreas, com trabalho familiar, com busca contínua da autonomia tecnológica, produzindo para o mercado local e interno, num sistema complexo e integrado de policultivos (produção diversificada com muitos cultivos) e de combinação entre produção animal e vegetal. A história da agricultura camponesa no Brasil tem sido até hoje a história da resistência camponesa.
Nos últimos anos de nossa história o conflito de modelos torna-se mais evidente e a luta entre os dois torna-se mais clara.
A agricultura latifundiária ainda mais dependente e vinculada ao monopólio da indústria química, funcional com o mercado internacional de alimentos, mais e mais monocultora, evoluindo na homogeneidade genética e na dependência das tecnologias da engenharia genética de laboratório, da informática e do geoprocessamento por satélites. Tecnologias caras, inacessíveis às maiorias e, na maior parte das vezes, desnecessárias.
A agricultura camponesa busca caminho próprio na sua viabilização através do associativismo e do cooperativismo, da produção para o autoconsumo familiar, da economia solidária, da industrialização e do mercado local e regional, reconstruindo a diversidade econômica, com sementes e raças crioulas, biodiversidade vegetal e animal e construindo uma vigorosa base de conhecimentos e recursos tecnológicos orientados por modelos de produção ecológicos. Nesta perspectiva, a agroecologia torna-se uma arma poderosa nas mãos dos camponeses em sua disputa com a agricultura das multinacionais.
Os próximos anos revelarão o desenlace da luta entre estes dois sistemas de produção de alimentos. Junto com esta luta estaremos decidindo os rumos do país.
Por Frei Sergio Antônio Görgen – Dirigente do MPA / Via Campesina, autor do Livro: Trincheiras da Resistência Camponesa
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