Sintomas de crise rondam o agronegócio brasileiro. Crise subterrânea, escondida, disfarçada. O agronegócio latifundiário precisa da propaganda para se justificar publicamente, por isto procura esconder e disfarçar sua crise e procurar resolvê-la às escondidas.
Os sintomas são muitos. A crescente crítica pública ao envenenamento dos alimentos. Denúncias de trabalho escravo e destruição ambiental. A renda diferencial média em queda constante nas commodities agrícolas. Os custos em alta. Esgotamento tecnológico na eficácia das moléculas químicas disponíveis. Comprovação pública de altos benefícios tributários como a desoneração de impostos nas exportações, na compra de agrotóxicos, sementes e fertilizantes. Assim mesmo, com tanto benefício fiscal, foi alta a sonegação no pagamento do FUNRURAL. Obrigados pelo STF a pagar, querem anistia.
A campanha caricata da Rede Globo, onde o Agro se pinta de “POP” e “TEC” e se diz “TUDO”, faz parte deste esforço de justificação pública de um modelo em crise. Assim mesmo, precisa “dar esmola com chapéu alheio” roubando cena da produção de alimentos agroecológicos saudáveis da agricultura camponesa para vender maravilhas do agronegócio. No mundo real, os agentes do agronegócio combatem e debocham da agricultura camponesa e da agroecologia. Mas a decadente Globo precisa de suas imagens nas telas para salvar a pele do agronegócio.
Propaganda coerente do agronegócio seria mostrar a soja transgênica envenenada invadindo as mesas ou mostrar que a cervejinha do verão é produzida com milho transgênico porque a contaminação exterminou a produção não transgênica.
Porém, do chão da terra, algumas irrupções estão acontecendo e revelando a dura realidade: dito por gente deles, o “pujante” está em crise.
Em 21/03/17, na Abertura da 17ª Expoagro Afubra, em Rio Pardo/RS, o vice-presidente da Farsul ( Federação dos Grandes proprietários do Rio Grande do Sul), Gedeão Pereira, chegou a afirmar que “considera o agronegócio oficialmente em crise”.
E agora, em 08 de novembro de 2017, ruralistas dissidentes da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em Carta aberta dos produtores rurais à nação brasileira, assinada pela União Democrática Ruralista – UDR e pela Associação Andaterra, dizem textualmente: este manifesto “é mais um ‘alerta’ à Nação sobre as dificuldades e a situação gravíssima que estamos enfrentado para produzirmos” (….) “Não vamos aguentar, em breve vamos entrar em extinção”. Além de dizerem que a “CNA não nos representam”, queixam-se do Funrural, das medidas contra o trabalho escravo, das leis ambientais e dos direitos dos índios sobre suas terras.
A Agricultura Camponesa é a “proposta contraponto” ao agronegócio. Não quer ser nem “pop”, nem “tec”, muito menos “tudo”. É sim, raiz, simplicidade, autenticidade, diversa e original. É popular, do povo. É ponta de tecnologia quando se trata de alimento saudável produzido em harmonia com o ambiente. É referência quando se trata de produzir equilíbrio social e postos de trabalho. É crítica em relação à matriz dita moderna de pensamento, produção e exploração dos recursos naturais. É crítica em relação à tecnologia que envenena, mata e desemprega.
Nem é nem quer ser “tudo”, não se propõe ser totalitária. Quer ser parte e fazer parte, na saúde, na alegria, na convivência, na solidariedade, no bem estar, quer estar na mesa de todos e saciar a fome com comida saudável no quotidiano da comunidade humana, solidária e parceira.
A Agricultura Camponesa também vive uma crise: da falta de apoio público, da pressão do agronegócio, dos baixos preços do que produz, da legislação sanitária que a criminaliza, da falta de terra para produzir.
Mas é uma crise de outra natureza, não é uma crise de destino. Está em crise porque perseguida e marginalizada. Porém, é portadora de futuro e de esperança. A Agroecologia é o caminho do futuro da humanidade, a trilha da superação da crise, com ampla reforma agrária e garantia dos territórios indígenas, quilombolas e camponeses, avançando sobre o latifúndio do agronegócio em crise, este sim, de destino, pois pouco tem a oferecer de digno ao conjunto da humanidade.
Por Frei Sérgio Antônio Görgen, frei franciscano, militante do MPA e autor do livro “Trincheiras da Resistência Camponesa”.
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