Na primeira mesa do fórum, militantes analisaram a conjuntura mundial e afirmaram a necessidade de resistir ao avanço do capitalismo sobre os recursos naturais.

A luta contra o avanço do capitalismo foi o tema central da primeira Plenária Unificada do Fórum Alternativo Mundial da Água, que aconteceu na tarde desta segunda-feira (19), no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília (DF). Participaram da mesa que apontaram os elementos da conjuntura nacional e internacional, a militante Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres; Ivan Emiliano Manzo, do movimento Pátria Grande da Argentina; e Renato Di Nicola, do European Water Moviment (Movimento Europeu pela Água).

De acordo com os debatedores, o capital passou a se reestruturar em todo o mundo a partir de 2009, buscando o aumento do lucro e da exploração como saída para a sua crise. A retirada de direitos dos trabalhadores e a apropriação dos recursos naturais, incluindo a água, fazem parte dessa estratégia.

Para Renato Di Nicola, da European Water Movement, a luta pela água unifica povos de todo o mundo. Ele aponta a realização de mobilizações contra a mercantilização desse recurso em diversos países. Um exemplo é a Itália, que barrou o processo de privatização do saneamento a partir de um plebiscito popular que levantou 27 milhões de votos.

Já na América Latina, a crise do capital marcou o início de um avanço conservador, com uma onda agressiva contra todos os povos. O primeiro golpe foi em Honduras, em 2010, e se espalhou pelo continente. “Não somos mais representados enquanto povo, os próprios empresários representam o país. E essa onda neoliberal vem acompanhada de opressão e repressão àqueles que lutam ”, indigna-se Ivan Emiliano Manzo.

O representante do movimento Pátria Grande, da Argentina, aponta que esse avanço do capital sobre a América Latina se realiza por meio de reformas, como a trabalhista e tributária, e da privatização dos recursos naturais como água e terra.  “No Chile avançam os empreendimentos minerais, no Brasil querem privatizar a água, e na Argentina avançam as lavouras de soja transgênica e seus agrotóxicos. Em todo o continente latino-americano a exploração de petróleo e o desmatamento poluem, destroem e ameaçam a vida de camponeses, quilombolas, povos tradicionais e comunidades pobres”, relata Ivan.


Capital versus vida 


Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres, aponta que o avanço do da exploração no mundo elevou a contradição entre “capital versus trabalho” para “capital versus vida”. Ela afirma que essa agudização congela investimentos sociais, aumenta a exploração do trabalho e provoca diversas outras ações que resultam na precarização de vidas. A liderança reforça que tal conflito afeta mais profundamente determinados grupos sociais, como as mulheres, juventude negra, homossexuais e indígenas.

“A recuperação da democracia não é a recuperação de um processo eleitoral, de votar em alguém. Isso é apenas um elemento da democracia. Não vamos avançar na democracia se não tivermos direitos, se não avançarmos nas nossas lutas. Temos o poder de construir um projeto político para isso, e vamos fazer a partir da radicalidade e da unidade”, completa Nalu.

Com a participação de cerca de 3 mil pessoas, a análise de conjuntura na perspectiva da luta em defesa da água no Brasil, América Latina e no mundo aponta o fortalecimento do internacionalismo e a construção de ações concretas unificadas para garantir o direito à água para todos os seres humanos.

“A revolução é como um mar, temos que andar conforme as ondas. Quando ela avança vamos o mais longe possível, mas quando retorna devemos resistir ao máximo”, opina Ivan.

Por Gerson Neto e Maíra Gome – Comunicação FAMA