Em todos os golpes de Estado até hoje praticados ao longo da história do Brasil, as primeiras vítimas foram os camponeses.
Assim foi em 1889, que resultou na negação do acesso à terra ao povo negro dito liberto pela lei áurea, nos Massacres de Canudos e Contestado e num grande assalto perpetrado pela classe latifundiária às terras públicas do Brasil.
Assim foi em 1930/37, apesar de todos os aspectos positivos do período getulista, a expansão da economia agrícola se deu roubando terras indígenas e expulsando posseiros. O Massacre do Fundão, no então município de Soledade, RS, em 1937, é um exemplo do que fazia a política do Estado Novo sobre o povo camponês.
Em 1954, a deposição de Getúlio forçando seu suicídio, resultou no massacre das revoltas de posseiros no Paraná, com intervenção militar e a criação dos primeiros grupos executivos de terra comandados pelo exército nacional.
O Golpe de 1964, além de reprimir e extinguir à força da violência as Ligas Camponesas, o Movimentos dos Agricultores Sem Terra do Sul do Brasil, de exterminar a experiência de gestão camponesa livre em Trombas e Formoso, tornou institucionalizada a violência contra os pobres do campo, matando posseiros, perseguindo padres, freiras e bispos, apoiando e protegendo a grilagem. Prendeu, exilou e matou lideranças e criminalizou qualquer tentativa popular de lutar por terra ou reforma agrária.
Parece que com o golpe de 2016 não é diferente.
A Comissão Pastoral da Terra, organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou recentemente mais um duro relato da violência no Campo, os dados coletados em 2017 através do seu caderno de Conflitos no Campo que vêm sendo publicado anualmente a mais de 3 décadas nos mostra como o golpe institucionalizou a licença para a matar camponeses, indígenas e quilombolas em nosso país.
Os números são alarmantes e mostram a evidente escalada dos conflitos e assassinatos no campo brasileiro que ascendem quase que automaticamente ao momento que acontece o impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff. O agronegócio esteve ativamente envolvido no processo do golpe, e mais uma vez junto com o estado mancham de sangue inocente a história de nosso país.
O documento sistematizado pela CPT faz com que qualquer pessoa se arrepie, vivemos um silencioso massacre de lideranças no campo Brasileiro e o golpe aumentou ainda mais esse quadro. Isso fica evidente ao vermos os números, somente em 2017 foram 70 assassinatos confirmados, o que equivale a cerca de uma pessoa assassinada a cada cinco dias! Vale ressaltar que esse número saltou de 51 mortes em 2015 para 60 em 2016, e tememos que siga crescendo.
Quando observamos a questão dos massacres, os dados também mostram um crescimento substancial em 2017 foram 4 massacres entre eles lembramos os de Colniza em Mato Grosso e em de Pau D’Arco no estado do Pará, se isso já não bastasse os requintes de crueldade marcaram esses fatos, execuções a sangue frio, membros decepados e o aumento crescente das “agromilicias”. Tudo isso remonta a figura sanguinária dos bandeirantes e jagunços de outrora deixando à mostra a face mais arcaica e covarde do agronegócio desde suas origens em nosso país.
Enquanto a grande mídia infesta os meios de comunicação com modernas e falaciosas propagandas do agro, o sangue inocente de indígenas, camponeses e quilombolas cai sobre o solo de nossa nação, os gritos e os sons dos disparos são silenciados pelo comercial global que informa que o agro é pop, tec que é TUDO. Só não esqueçam que neste “tudo” também devem incluir: violência e morte.
Por Frei Sérgio Antônio Görgen e Bruno Pilon – Militantes do MPA.
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