Grevistas participam de ato no acampamento em Brasília e reafirmam disposição de lutar até "as últimas consequências".
Os militantes de movimentos populares que realizam greve de fome há 15 dias em Brasília para exigir que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue o quanto antes as ações que questionam o entendimento de que é possível a execução de pena após condenação em segunda instância –decisão que pode culminar na liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva– participaram, nesta terça-feira (14), de um grande ato político no acampamento montado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na cidade.
O acampamento reúne mais de 6 mil camponeses de todos os estados brasileiros, que também protestam pelo direito de Lula ser candidato e concorrer à Presidência da República nas eleições deste ano. Os militantes do MST e de movimentos ligados à Via Campesina marcharam por mais de 50km, ao longo de quatro dias, por rodovias de Goiás e do Distrito Federal em um ato político e cultural batizado de Marcha Nacional Lula Livre.
Sentados em frente ao caminhão de som estacionado no acampamento e acompanhados pelos profissionais que monitoram sua saúde, Rafela Alves e Jaime Amorim falaram aos camponeses sobre seu gesto radical de protesto e resistência. Dos sete grevistas, apenas Frei Sérgio Görgen não compareceu ao ato, por orientação médica.
“Estamos fazendo a mesma batalha, derramando o mesmo suor. Nossa greve de fome é a quarta coluna desta marcha, e, por isso, tínhamos de estar aqui”, afirmou Rafaela. “O povo que marcha, resiste e luta contra a miséria e a fome, que alguns aqui conheceram na pele, não pode ficar calado vendo nossa água, minério, petróleo, nossas riquezas, sendo vendidas. Os ricos e poderosos não têm boas ideias ou boas intenções para o nosso país. Por isso, esta não é uma greve pela morte, mas pela vida. Para reverter esses processos, queremos Lula livre e presidente”, completou.
A militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) ressaltou o caráter histórico dos atos políticos desta semana, que culminarão em uma grande demonstração em frente ao Superior Tribunal Eleitoral (TSE) nesta quarta-feira (15), último dia para o registro de candidaturas para as eleições.
“Pela primeira vez na história, é o povo que vem registrar uma candidatura a presidente”, lembrou.
Jaime Amorim, integrante do MST, resgatou as palavras do ativista indiano Mahatma Ghandi para explicar aos acampados os critérios que fazem um protesto extremo como a greve de fome se tornar legítimo: em primeiro lugar, que os manifestantes compreendam que estão superadas todas as alternativas institucionais para alcançar seu objetivo, e, em segundo lugar, que a causa seja justa.
“Todos nós sabemos que hoje não temos perspectiva de justiça em um Judiciário corrupto e submisso aos interesses da elite. E também sabemos que a fome está voltando, que a violência está generalizada, sofremos com desemprego e o atual governo promove reformas que retrocedem o país de volta ao tempo da colonização”, afirmou. “Então não é pelo PT ou pelo Lula, é pelo povo que vê em Lula a possibilidade de um país mais justo e soberano. Só pedimos que eles sigam os ritos normais, que certamente garantirão a liberdade de Lula”.
Jaime reafirmou que o protesto, que classificou como “passivo, mas não pacífico”, não tem data para acabar: somente o atendimento de suas demandas por parte do STF encerrará a greve de fome. “Colocamos voluntariamente nossas vidas e nosso sacrifício a serviço da democracia”, disse.
“Não tenham pena de nós. Não chorem. Queremos que a indignação se transforme em ações, como esta que vocês estão fazendo. Só uma coisa pode alterar a correlação de forças neste momento: o povo na rua”, avisou.
Sem plano B
A senadora paranaense Gleisi Hoffman, presidenta do Partido dos Trabalhadores, falou aos militantes presentes sobre o registro da candidatura de Lula que eles irão acompanhar no dia seguinte, e ressaltou que Lula é o único candidato do PT a presidente.
“O companheiro [Fernando] Haddad não é ‘plano B’. Ele é candidato a vice-presidente. Vamos teimar na luta, iremos até o fim com Lula; se eles quiserem cometer essa violência contra o povo brasileiro e a Constituição Federal, não será pelas nossas mãos”, ressaltou.
“Eles acharam que poderiam legitimar o golpe [aplicado contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016] realizando uma eleição sem Lula, mas não desistiremos. Amanhã, registraremos a candidatura de Lula nos braços do povo”, disse.
O ato político com os grevistas contou ainda com a presença dos deputados federais Paulo Sérgio (RJ), Wadih Damous (SP), Paulo Teixeira (SP), Henrique Fontana (RS) e Paulo Pimenta (RS), da senadora Regina Souza (PI), do ex-ministro e ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra, além dos dirigentes do MST João Pedro Stedile e João Paulo Rodrigues. O ator Osmar Prado e representantes do Movimento das Mulheres Camponesas e da Federação Única dos Petroleiros também participaram do ato.
Diego Sartorato
Brasil de Fato | Brasília (DF), 14 de Agosto de 2018 às 20:56
Edição: Rafael Tatemoto
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