No último dia do I Intercâmbio Global “Adote uma Semente”, 4/08, a delegação da Via Campesina, foi recebida pelos guardiões de Sementes Crioulas, dona Adelice Perreira dos Santos (Dona Nice) e seu Antônio Pereira dos Santos, o casal cuida, mantêm e multiplica mais de 80 variedades de sementes crioulas, entre elas milho, feijão, melancia, hortaliças, árvores, ervas aromáticas, medicinais e ornamentais.

Moradores da Comunidade Paraíso, município de Jacobina (BA), Dona Nice conta que desde seus 10 e 12 anos começou a cuidar das sementes crioulas, casou-se e segue até hoje, “via sempre minha tia e minha mãe plantando, cuidando e quando davam as sementes para as outras pessoas, sempre faziam as orientações de como plantar e cuidar, e eu fui aprendendo essas coisas”, explica Nice.

Ainda na sala do casal onde tinham amostras de todas as variedades que trabalham, cada delegado e delegada fez uma apresentação sobre o trabalho que sua organização desenvolve com as sementes crioulas. O momento reuniu além da família camponesa, lideranças da comunidade e da Associação local.

De volta à estrada, a delegação composta por quinze delegados vindo de nove países – Suíça, Argentina, Peru, Nicarágua, Palestina, Costa Rica, Coreia, Zimbabué e Brasil -, retorna para a capital, Salvador onde são recebidos por representantes do Governo do Estado da Bahia e movimentos populares parceiros de lutas do MPA, entre eles o Movimento dos Atingidos por Barragens, Levante Popular da Juventude, Movimento dos Trabalhadores Desempregados e a Articulação Nacional de Agroecologia.
Na ocasião a delegação cobrou o Estado para que agilize o acesso a água no Assentamento Terra Nossa, no município de Ponto Novo. “Água, assim como a Terra e as Sementes precisam estar a serviço dos povos, não pode servir aos interesses das empresas, seja aqui no Brasil ou em qualquer outro país”, afirma Sukkyeong Seo, da Associação Camponesa da Coreia (KWPA – sigla em coreano).

O Secretário da Agricultura Familiar do Estado da Bahia, Geandro Ribeiro destacou o que o Governo tem desenvolvido junto aos territórios, povo e comunidades tradicionais. Por sua vez, a representante da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) Agroecologia, Ana Cristina, aponta como tem sido realizado o trabalho com as sementes crioulas junto aos camponeses e as comunidades tradicionais.

Já o coordenador da ONG Sasop e integrante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Carlos Eduardo Leite (Caê), destacou o quão tem sido difícil de cuidar para que as sementes crioulas não sejam contaminadas pelas sementes geneticamente modificadas e aponta o estudo que a entidade tem desenvolvido junto aos camponeses e camponesas.

A programação do intercâmbio permitiu que o grupo com representantes de quatro Continentes, viesse até o Brasil para conhecer as experiências do MPA com sementes crioulas e também para internacionalizar a ação “Cada Família Adote uma Semente” que faz parte da Campanha Internacional, “Sementes Patrimônio dos Povos a Serviço da Humanidade”, que é organizada pela Campesina.


Por Adilvane Spezia – jornalista e militante do MPA