O 5º dia do I Intercâmbio Global “Adote uma Semente”, que está sendo realizado no Nordeste brasileiro, foi marcado pela história, cultura popular e resistência. Com o objetivo de internacionalizar a nova ação da Campanha Sementes Crioulas Patrimônio dos Povos a Serviço da Humanidade, “Adote uma Semente”, também multiplicam-se experiências, vivencias e saberes.

Na manhã desta segunda-feira (3) a delegação composta por quinze pessoas ligadas a Via Campesina, foi recebida pelos camponeses e camponesas da Comunidade Micaela, no município de Caém – Bahia, local em que foi realizado o primeiro Acampamento da Água. Além de conhecer o lugar e sua cultura, o grupo visitou um campo de sementes irrigadas por gotejamento. A lavoura está em seu terceiro plantio, desta vez em cultivo três variedades de mandioca – Rosinha, Bom Conselho e Roxa -, e duas variedades de feijão de corda, – Coruja e Casa Grande.


Este campo tem se dedicado ao cultivo e multiplicação da mandioca, isso porque para o Campesinato desta região significa muito mais do que ser um alimento essencial na mesa, significa resistência e saberes ancestrais. O jovem camponês Anderson de Sousa Secundo, destacou a importância que os campos de sementes têm para comunidade, assim como a Agroecologia e o papel da juventude.

“Estávamos quase sem sementes e o projeto despertou este cuidado, que despertou a comunidade para o cuidado das sementes, mudas e raças crioulas e também, com a Agroecologia e a produção de alimentos saudáveis. Nos permitiu unir a Comunidade, retomar o trabalho em mutirão, dividir as experiências e adquirir novos conhecimento”, explica o jovem camponês.


Outro fator apontado nesta visita, foi o quanto o empoderamento das mulheres e da juventude tem sido um fator de destaque, como relata o técnico do projeto, Rogério Silva, “este empoderamento dá-se pelo processo histórico da origem da agricultura e pela prática do dia a dia no cuidado e da multiplicação das sementes crioulas”.

Já na parte da tarde a visita foi no Quilombo de Várzea Queimada, município de Caém, no semiárido baiano. Formado em 1885 por três casais fugidos da escravidão na região de Feira de Santana (BA), durante a ditadura militar o Quilombo sofreu fortes golpes e praticamente foi destruído. Em 2014 foi reconhecido como área quilombola, mas a resistência e luta deste povo têm sido uma constante, somado aos processos de transformação popular.

Depois da roda de conversas e trocas de sementes entre o grupo, os quinze delegados visitaram o morador mais velho do lugar, seu Joaquim, que mesmo sem enxergar, contou a história do Quilombo e de seus antepassados. Um momento que prendeu a atenção de todos, inclusive das crianças.


Como parte desta troca de experiências, os delegados contaram sobre a realidade seus países e como tem trabalho com as sementes, mudas e raças crioulas. Em seguida, o grupo conheceu a Casa de Farinha e o processamento que a mandioca é submetida até se transformar na farina e ir a mesa para consumo. Da mesma forma o quintal de frutas e hortaliças foi bastante apreciado pelo grupo, assim como a experiência da construção das moradias camponesas.

No Quilombo o MPA já realizou onze moradias camponesas iguais a que foi visitada, no município de Caém são mais de 30 e no Estado, esse número se multiplica, somando mais de 490 moradias, que aos camponeses e camponesas do Movimento é símbolo de luta, resistência e vida digna no campo.

As visitas hoje, fazem parte da programação do I Intercâmbio Global “Adote uma Semente”, que está sendo realizado no Brasil entre os dias 31 de agosto há 5 de setembro deste ano. Reunindo no Brasil representantes da Via Campesina de quatro Continentes com o objetivo de conhecer as experiências do MPA com sementes crioulas e também para internacionalizar a ação “Cada Família Adote uma Semente” que faz parte da Campanha Internacional, “Sementes Patrimônio dos Povos a Serviço da Humanidade”, que é organizada pela Via Campesina Internacional.



Por Adilvane Spezia – jornalista e militantes do MPA