Aconteceu nos dias 12 e 13 na comunidade quilombola Engenho da Ponte em Cachoeira o III Encontro de Mulheres Negras e a II Feira de Diversidade Quilombola do Engenho da Ponte realizado pela Articulação de Mulheres Negras do Quilombo. O encontro faz parte das atividades do Julho das Pretas com objetivo celebrar e afirmar a luta e resistências das mulheres pretas contra a violência, o machismo, o racismo e todas as opressões.
O encontro contou com a presença de diversas organizações como parceiras sendo Igreja Rosário dos Pretos (Nilza Bomfim), Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Luana Soares), Religião de Matriz Africana (Marinalva Almeida), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Tatiana Veloso), CEDITER (Dinorah Lobo), Movimento dos Pequenos Agricultores/MPA (Saiane Santos), Movimento do Sem Teto da Bahia (Mirian Alves), Assistência social (Andréia Macedo) e
Consultora da Secretaria de Cultura e Turismo(Tâmara Azevedo), Projeto 1+ 1 é + que 2 (Barbara Trindade) e outras.

 A primeira mesa de debate “Memórias das mulheres negras quilombolas” onde as mulheres das comunidades de Engenho da Ponte e Engenho da Praia (Maria das Graças, Almelinda de Jesus e Dulci Santos) partilharam as suas experiências de luta, sobrevivência e resistências no território quilombola.

Durante os dois dias de encontro foram discutidos temas como violência contra as mulheres, reforma da previdência, reforma política e protagonismo das mulheres e da juventude nos quilombos. Para Mirian Alves a reforma da previdência é um ataque aos direitos que os trabalhadores e trabalhadoras
conseguiram com muita luta, o impactos para a vida das mulheres será enorme, seja pelo aumento da idade seja pelo aumento da contribuição, nos cortes aos direitos a pensão em caso de morte de seus
companheiros, o cenário que se aponta é perverso para elas, é a volta a pobreza, a senzala, as mazelas, onde as mesmas passarão a trabalhar cada vez mais para garantir sustento de suas famílias. 

Ligia, enfatizou a necessidade discutir com o povo sobre os impactos da reforma para os trabalhadores, desmitificar estes discurso que há um rombo na previdência e que portanto este discurso empregado pelo governo é uma falácia é retirar direitos dos pobres para os ricos continuar ganhando, acrescenta que precisamos discutir a reforma tributária falar para o povo para onde tá indo os nossos impostos e que é preciso taxar a riqueza dos ricos. 


Saiane Santos chama atenção que as violências contra as mulheres e sobretudo as mulheres negras está no campo privado e público. Privado ou seja a violência doméstica e que cresce a cada dia segundo dados da Rede Brasil 58% das ligações no disque 180 são de mulheres negras, segundo dados do mapa da violência entre 2003 a 2013 o homicídio de mulheres negras teve um crescimento de 54,2%. A violência no campo público ou seja cometida ou legitimada pelas instituições do estado brasileiro, vai desde a omissão de servidores no atendimento, ou de casos de mãos tratos e preconceitos casada com a descriminação racial e de gênero, nos casos de mortalidade materna as mulheres negras ocupam 56% dos casos devido principalmente ao aborto clandestino, bem como pela violência obstétrica que 65% dos casos são de mulheres negras, a violência ela tem gênero e tem cor.
Não bastasse as violências diretas as mulheres negras ainda experimenta com maior intensidade a violência contra seus filhos, irmão e companheiros, segundo os dados do mapa da violência de 2012 cerca de 30 mil jovens assassinados deste 77% eram negros, ou seja o projeto é de extermínio da população preta.

As mesmas enfatizaram que neste cenário de desigualdades, de violação e negação de direitos é destas mulheres que se levanta a força combativa, de luta e de resistência em busca de justiça, de defesa da terra e dos territórios quilombolas, da defesa da soberania alimentar, da defesa da educação, da luta em defesa e pelo direito de decidir sobre seus corpos. A história do povo negro é de resistência e assim permanecerá.

O encontro também contou com uma mesa sobre agricultura camponesa e pesca artesanal onde os companheiros Rosinaldo Assis, Edison Santos e Manoel da Silva onde trouxeram os principais desafios e dificuldades que a comunidade tem enfrentado para continuar plantando e pescando para
garantir a sobrevivência da comunidade, apontam que após a construção da empresa Votorantim e
da barragem de Pedra do Cavalo diminui e contaminou as águas dos mangues de onde as famílias retiram o seus sustentos, é preciso que o estado olhe para a vida das comunidades quilombolas é preciso a auto- organização destas comunidades e de apoio de outras organizações para barrar esta 
situação que as comunidades do Recôncavo tem sofrido.


E encerrou o encontro com a mesa da juventude onde os jovens Tiago, Sergio, Claudio, Maiara e Saiane Santos trouxeram os medos e sonhos da juventude quilombolas e camponesa em continuar as lutas e enfretamentos em seus territórios, enfatizando que os principais desafios está sobretudo no direito à educação, a geração de renda e de resistir em sua terra.