O movimento camponês concretizou sua Jornada de Luta por Soberania Alimentar e Poder Popular – MPA Contra a Fome durante a Semana Internacional em Defesa da Soberania Alimentar.


Por Caio Barbosa|  Comunicação MPA

A fome ainda atinge 821,6 milhões de pessoas no mundo, aproximadamente 1 entre cada 9 habitantes do planeta se encontram em estado de insegurança alimentar, dados atualizados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) demonstram que o índice aumento no último ano de 2018. Na América Latina e Caribe são mais de 42 milhões de pessoas que estão em situação de vulnerabilidade à fome. Este também é o cenário no Brasil, no último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que mais de 7 milhões de brasileiros passam por situação de insegurança alimentar grave, chegando à fome.

Audiência no RS debate crise do preço do leite. 
Diante desse cenário, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) realizou durante os dias 14 a 18 de outubro sua “Jornada de Luta por Soberania Alimentar e Poder Popular – MPA Contra a Fome” com objetivo de fortalecer o debate e as lutas sociais na defesa pela Soberania Alimentar, algo em especial para os camponeses e camponesas, os responsáveis pela produção de alimentos saudáveis no país.
As atividades da Jornada do “MPA Contra a Fome” aconteceram de norte a sul no Brasil e também cruzaram as fronteiras internacionais. Na cidade de Ramallah na Palestina foi realizada a Conferência Internacional pela Soberania Alimentar: Colonização e Fronteiras, o evento contou com a participação de Gilberto Schneider representante do MPA que participou das mesas de debates contribuindo com o tema da soberania genética na produção das sementes crioulas e também sobre a questão da agroecologia como estratégia para conquistar a Soberania Alimentar; além disso, Gilberto participou de um mutirão popular para colheita de azeitonas em solidariedade ao povo palestino.
Colheita das oliveiras é realizado por mutirão na Palestina. (Foto: MPA)

Já as ações da Jornada do MPA em território nacional foram realizadas em mais de 10 estados brasileiros, abrangendo municípios desde Amazônia Legal, passando pelo semiárido nordestino, pelo cerrado e também chegando ao sul do país.
Em Porto Alegre, aconteceu a VII Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (VII CESANS) e também uma mobilização popular em torno da audiência pública que discutiu a política estadual do preço do leite no estado do Rio Grande do Sul, essas atividades foram realizadas em conjunto com outros movimentos sociais e à Via Campesina. No Rio de Janeiro, o MPA distribuiu mais de 200kg de comida para os militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST que se encontram na região metropolitana do estado; além disso, outra atividade do Movimento foi a distribuição de 170 quentinhas para moradores em situação de rua no centro da cidade do Rio.

No RJ MPA e MTST distribuem alimentos.

As atividades pelo Rio de Janeiro se estenderam até o dia 21 de outubro com a realização da I Escola de Brigadistas do MPA que aconteceu no Raízes do Brasil, espaço de cultura camponesa do MPA em Santa Teresa.
As ações da Jornada também foram realizadas no âmbito da educação popular, algumas atividades aconteceram dentro das Universidades espalhadas pelo Brasil, como na Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e nos Institutos Federais da Bahia (IFBA) e do Piauí (IFPI). Nesses espaços aconteceram debates sobre Segurança e Soberania Alimentar, feiras agroecológicas, filmes e atividades culturais. Além das Instituições de Ensino Superior a Jornada “MPA Contra a Fome” também esteve presente em escolas municipais e rurais, como na Escola de Referência em Ensino Médio Justa Barbosa de Sales no município Vertentes do Lério em Pernambuco, e na Escola Família Agrícola Dom Edilberto II localizada em São João da Varjota no Piauí.

MPA participa de debate sobre Soberania Alimentar na UFS 

A diversidade cultural e de gênero também foi abarcada pelas ações do “MPA Contra a Fome”, ainda no município de São João da Varjota aconteceram debates e mobilizações no Assentamento Pinga e na comunidade Quilombola Paquetá. Já no território indígena Payayá, no município de Utinga, na Chapada Diamantina foi realizada a VI Jornada Agroecológica da Bahia, com o tema “Terra, Território, Água, Ancestralidade: tecendo o bem viver” no qual o MPA fez parte junto a outros movimentos populares. Em Rondônia aconteceu o Encontro Estadual de Mulheres Camponesas no município de Jaru, com a participação de quase 150 mulheres da região debatendo o tema da Soberania Alimentar, da agroecologia e saúde popular. Já as mulheres da comunidade do Tabuleiro em Monte Alegre no Sergipe também se organizaram e fizeram oficinas práticas sobre defensivos naturais e compostagem, além de compartilhar experiências dos projetos populares em torno da soberania alimentar no semiárido produtivo.

Para Rafaela Alves dirigente nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores as atividades foram fundamentais para levar o debate junto à sociedade com os mais diversos sujeitos e agentes sociais, ela afirma que “sejam as pessoas que frequentaram as feiras, seja com os militantes e os próprios estudantes, era preciso compreender um pouco mais esse sistema global alimentar. O triângulo que temos discutido é que por um lado tem uma grande massa social que come muito pouco, outra massa que não comerá no futuro, e uma pequena parcela da população que come bem, e hoje tenta buscar cada vez mais comer alimentos saudáveis”.
A “Jornada de Luta por Soberania Alimentar e Poder Popular – MPA Contra a Fome” teve uma semana intensa de mobilizações pelo Brasil, foram inúmeras atividades e ações que estiveram presentes no calendário dos camponeses e camponesas. Com o intuito de garantir a Soberania e a Segurança Alimentar além de mobilizar a sociedade, os militantes e apoiadores do MPA se desdobraram e conseguiram pautar durante esses dias a luta contra a fome no país. Isso aconteceu desde a região do Vale do Rio Doce em Minas Gerais onde ocorreu um seminário para debater atual conjuntura do país junto a diversas lideranças camponesas e organizações parceiras do movimento, passando até por Picos no estado Piauí onde ocorreu uma feira camponesa e atividades culturais na Praça Josino Ferreira.

Bela Gil recebe cesta de alimentos saudáveis.

O tema Soberania Alimentar e Poder Popular também foi pautado com o apoio da culinarista e apresentadora de televisão Bela Gil durante o Banquetaço no Pelourinho realizado em Salvador. Essa atividade fez parte da Feira Agroecológica da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) e teve a participação de 40 agricultoras/es do Baixo Sul, do Recôncavo Baiano, do Portal do Sertão e da Região Metropolitana que levaram para a cidade uma diversidade de produtos Agroecológicos e Artesanais.
Em um balanço geral das ações da Jornada, Rafaela Alves do MPA acredita que o objetivo de dar visibilidade durante essa semana a luta contra a fome no Brasil foi alcançado, e que foi possível convocar a sociedade para contribuir nessas reflexões. Pois para ela o debate sobre o alimento saudável e a soberania alimentar não é algo somente tangente aos movimentos do campo, mas também a população que vive nas cidades. Rafaela nos explica que “essa conjuntura que estamos vivendo atualmente no país é uma conjuntura que deixa ainda mais complexa nossa vida, pois são negados os nossos direitos, inclusive o direito de produzir alimentos saudáveis. Nesse sentido, é importante convocar a sociedade para assumir o debate junto ao MPA, para que possamos promover mudanças no atual sistema de produção de alimentos e no desenvolvimento do nosso país”, ela ainda destaca que é preciso ficar em alerta, pois o cenário da fome estaria voltando ao cotidiano dos brasileiros.