Inicialmente resgatamos nossa leitura geral de que vivemos a transição de um período histórico que teve vigor durante o período que compreende a derrubada do muro de Berlim e a Queda da União Das Republicas Socialistas Soviéticas até a crise financeira de 2008.
As características desta transição que estamos vivendo são predominantemente:
Transição tecnológica – indústria 4.0, internet 5g, inteligência artific ial, etc; Multipolaridade global, os EUA equilibram forças econômicas e militares com China e Rússia; Novas formas de guerra e de Estado afim de manter o domínio dos EUA; Esgotamento das democracias liberais e a ascensão do fascismo ou novo fascismo; Crise econômica: durante os últimos 10 anos há uma estagnação da economia global, crescimento da pobreza e da miséria ao mesmo tempo que a riqueza acumulada no extrato mais rico (alguns milhares de super ricos) cresce de forma acelerada.
Portanto, analisando cada um destes aspectos e outros mais que aparecem vamos avaliando como estamos vivendo essa transição e o que nos espera pela frente.
Ao adentrarmos nas coisas mais imediatas que nos confrontamos diariamente, é importante visualizar esse cenário mais amplo, pois ajudam a melhor compreender, ou ter mais lucidez interpretação dos fatos.
Este material que estamos tentando organizar com alguma periodicidade pretende organizar informações a ajudar numa linha de análise mas não pode e não deve substituir a leitura continuada de textos/livros, acesso regular a sites como tijolaco.net, diariodocentrodomundo.com.br, jornalggn entre outros.
Cenário Externo:
No cenário externo tivemos no início do ano o assassinato de um importante general Iraniano, resposta militar do Irã sem reação dos EUA. O irã, grande produtor de petróleo, tem sido um contraponto importante à Arábia Saudita, Israel e aos interesses americanos na Região, desestabilizar o Irã é algo perseguido pelos EUA para fazer frente à crescente influência Rússo-Chinesa na região. A disputa lá é muito profunda e importante no cenário geopolítico Global. O ataque que o Irã fez as bases militares no Iraque mostrou que: a) as bases militares estão indefesas; b) o Irã tem capacidade de atacar alvos em Israel; c) há capacidade militar para enfrentar, ainda que de forma desigual, os EUA na Região. A não resposta do Trump demonstrou o receio de mergulhar numa guerra e dela sair perdedor, engoliu o “tapa” na cara.
A segunda grande notícia externa é o surto do coronavírus na China e que vai se alastrando mundo afora, importante relacionar este fato com o modelo alimentar. Desde que a peste suína dizimou mais da metade do rebanho suíno da China aumentou o consumo de carnes de animais silvestres, tal fato resulta na mutação de seres vivos que se tornam ameaças ao ser humano. A pressão humana sobre a natureza produziu por um lado a epidemia da peste suína em função dos sistemas de criação intensivos adotados na China, e o consumo de carnes silvrestres produziu um novo vírus. Há quem diga que tanto um quanto o outro foram produzidos em laboratórios pelos EUA para desestabilizar a economia Chinesa, ou ainda que a indústria da carne poderia estar por trás dessas duas epidemias. Especulações e teorias da conspiração a parte, fica patente a relação entre novas doenças e a crise do atual padrão alimentar.
Em decorrência dessas duas epidemias, tudo indica que teremos pelo menos dois efeitos significativos: 1) elevação de consumo de carne importada na China, pressionando o preço das carnes mundo afora; 2) maior demanda de soja e milho para produção de carne em sistemas intensivos afim de atender a demanda de carne;
A terceira informação significativa do mundo é a crise econômica na Europa (com risco de recessão na Alemanha) e no Japão, os dados de 2019 foram ruins, e com o impacto da epidemia do novo vírus, tudo indica que 2020 será mais um ano de economia estagnada (mais pobreza, mais desemprego, mais miséria, mais concentração de riqueza na mão de poucos, mais conflagração social que tem sido majoritariamente captada pela extrema direita com discurso e prática fascista). Quem se descola da crise são os EUA, no entanto, há um grande número de economistas apontando que se caminha para uma nova crise na economia americana, que tem sido protelada ao máximo afim de garantir a reeleição do Trump.
A leitura de uma possível crise nos EUA está exposta neste gráfico abaixo, a linha laranja representa o crescimento do PIB nos EUA, é a produção de economia real, a linha azul é o patrimônio líquido das famílias, quando há um descolamento a crise “serve” para trazer o patrimônio das famílias de volta ao valor real, assim foi em 2002, em 2008 e poderá acontecer em algum momento no futuro, não se sabe quando, mas o descolamento é enorme.
Devemos seguir acompanhando a evolução da conjuntura global, mas cientes de que uma crise econômica/financeira nos EUA poderá fazer a “terra tremer”
Cenário Interno:
No cenário interno podemos avaliar a conjuntura na evolução de alguns eixos que nos permitem ir vendo a avaliação no curto e no médio prazo.
- Alteração da natureza do Regime Político (constituição de 1988)
A constituição de 1988 com todo o seu contexto anterior e os desdobramentos posteriores com muitos limites políticos e econômicos, gerou um período histórico em que o Brasil se apresentava como uma país em desenvolvimento com alguma perspectiva includente, como expoentes podemos citar o sistema de educação, saúde pública e a previdência social.
Este caráter includente está sendo completamente desmontado, de forma assertiva pelo atual governo e conta com apoio das elites e de parcela importante da população manipulada pela grande mídia, assim como daqueles que foram derrotados no processo da constituinte de 1988.
Junto dessa pauta de alteração da natureza do regime político soma-se toda a discussão contra as políticas afirmativas das mulheres, negros, LGBT, bem como toda a formulação sobre direitos humanos.
- O “resultado econômico”:
Os resultados econômicos são ao mesmo tempo uma ameaça e a estabilização do governo. A ameaça consiste na falta do resultado econômico (emprego, aumento de renda, crescimento econômico), gerando queda da sua popularidade e descontentamento sobretudo nos setores médios – pequenos empresários, abrindo espaço para a oposição fazer uma crítica ao governo e ganhando adeptos.
Mas ao mesmo tempo os interesses econômicos do andar de cima gera uma base de sustentação ao atual governo. Por uma lado tem uma grande expectativa de privatizações a preços promocionais, entregando toda a rede pública de educação, saúde, saneamento, previdência, assistência social, segurança pública, etc… E por outro sabem que somente um governo da característica do atual tem condições de entregar o patrimônio público os fazem manter esta base de sustentação.
A pauta econômica que até aqui deu uma estabilidade ao Bolsonaro tem um consenso amplo no mercado e tem maioria no Congresso, porém, por uma série de dificuldades do próprio governo e dos problemas que emanam do núcleo duro bolsonarista, tem ocorrido frustrações no mercado, seja por não ter tocado a reforma tributária, administrativa, a radicalização do teto dos gastos, as privatizações, etc…
Começam então a haver trincos na unidade e estes ficaram mais evidentes nos últimos dias.
- Investigações contra o Clã
Há muitas investigações em curso que afetam o conjunto do clã Bolsonaro, passam de uma dezena, e podem a qualquer momento atingir de forma importante a família do presidente, como são muitas denuncias, em diferentes instâncias e estágios de investigação, há muitas pessoas com informações importantes e que podem estar usando-as para seus interesses, inclusive eleitorais, uma boa mostra disso é o que ocorre no Rio de Janeiro no conflito entre Witzel e Bolsonaro. Essas investigações testam os nervos da família presidencial de forma permanente e tem levado estes a cometerem erros políticos.
- A Crise Institucional
O golpe foi dado “com supremo, com tudo”. Em algum momento do ano passado teve um almoço com os “chefes dos poderes” – Bolsonaro, Toffoli, Maia e Alcolumbre, combinaram o jogo, fizeram os acordos, dentre os quais o Supremo autorizou a privatização de estatais sem aval do congresso. Assim, as instituições se colocaram a serviço do processo de desmonte da constituição de 1988, e tal capitulação está sendo muito bem aproveitada por interesses como o das polícias militares que não encontram nenhuma instituição capaz de enfrentar seus motins. Também está sendo usada por interesses estrangeiros, negócios da fé, dentre outros.
As instituições aprofundam a crise de credibilidade e nesse ambiente, quem ainda tem um grupo coeso envolta de si é o presidente da República, que se adiantou as demais, dizendo que os resultados de seu governo não saem porque as demais instituições corruptas, oportunistas e interesseiras não deixam.
Um possível pedido de impeachment de Bolsonaro apresentado pela oposição ou costurado pelo centro poderá ser usado pela base bolsonarista, fortemente apoiada no braço militar das PMs como prova de que as “instituições” não deixam o homem trabalhar….
- Movimento de rua decide
Somente com amplas mobilizações populares será possível enfrentar toda essa onda, a questão é como dar conta de promover amplas mobilizações.
Raul Ristov KrauseMilitante do Movimento dos Pequenos Agricultores
Monitorando a Conjuntura