“Mulheres em luta, até que todas sejam livres!”
                         

                                                                                          
Brasil é o 5º país do mundo mais violento contra as mulheres, onde a cada 2 segundos, uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil. A cada 22.5 segundos, uma mulher é vítima de espancamento ou tentativa de estrangulamento no Brasil. A cada 2 horas, uma mulher é assassinada no Brasil. Neste cenário, percebe-se que a casa, historicamente, não tem sido um local seguro para uma grande parcela das mulheres. A Bahia é considerado um dos estados mais perigosos para as mulheres, tendo um aumento de 32% nos casos em 2020. Partindo disto, como enfrentar a violência em tempos de conservadorismo, cultivo do ódio, intensificação do machismo e pandemia? Com a pandemia, e o necessário isolamento social, os casos de violência e de feminicídio aumentaram e explodem no Brasil a cada dia. O isolamento social, que deveria ser medida de cuidado para proteção efetiva, tornou-se, em diversos casos, aprisionamento e fator de agravamento das violência/opressões em suas variadas dimensões (psicológica/emocional/social/moral/física), contraditoriamente, num ambiente que deveria ser familiar, afetivo, acolhedor e solidário.

Segundo relatos ontem, 21 de maio de 2020, a senhora Maria José Conceição Lima (mais conhecida pelo apelido de “Galega” – foto abaixo), residente na Rua Caiçara no Bairro Jardim Araújo veio a óbito após ser vítima de um espancamento brutal do companheiro. Há 15 dias, na proximidade do período dos dias mães, segundo informações que nos chegaram foi relatado que o marido espancou a senhora Maria José dentro de casa e a encarcerou, seguindo de mais espancamentos relatados nos dias seguidos e, devido aos graves ferimentos causados na mulher, com o passar dos dias a situação se agravou tanto, que o mesmo marido violento, foi forçado a trazê-la para a UPA de Capim Grosso, mas a mesma, segundo denúncias virtuais, não resistiu e pelo nível de violência/torturas domésticas, veio a falecer gerando o feminicídio.



Neste sentido, já aqui, pedimos necessária, profunda e detalhada apuração dos fatos para que o machismo e a violência não seja naturalizada no município de Capim Grosso com a conivência da sociedade e mostre, com punição necessária, o efeito pedagógico de enfrentar a violência com coragem diante de uma sociedade que não aceita e não se calará mais com a brutalidade de homens desumanos em nosso seio sujando a imagem do sertanejo perante a sociedade e região. Queremos uma Capim Grosso livre da violência contra as mulheres! 

O feminicídio termina sendo o desfecho final de uma tragédia que se anuncia todos os dias na vida de mulheres atormentadas pelo fantasma cíclico da violência, a partir de uma violência diária, silenciada, mascarada pelo Estado e “invisível” aos olhos do município e a sociedade ali colocada. A violência tem raízes: o machismo estrutural. Naturalizado nos discursos e brincadeiras diárias, aclamado e reproduzido por todos aqueles que se beneficiam dessa estrutura de manutenção de poder e diferenciação entre homens e mulheres, o machismo se sustenta num modelo patriarcal de sociedade e alicerça essa epidemia chamada violência de gênero. Uma legião de humanos impulsionados por uma educação que os fez acreditar que diferenças sexuais justificam
a suposta superioridade de um gênero sobre o outro. Uma geração que reproduz o papel social atribuído a mulher de se constituir num objeto. 

Além do constrangimento público necessário para enfrentar o machismo e patriarcado sertanejo ainda arraigado cultura e socialmente em muitas cabeças e atos masculinos, há de se lembrar que o feminicídio virou qualificador do homicídio em 2015, agravando a punição do crime (punição de 12 a 30 anos) e merece ação imediata pelo crime e pela dor da perda da família. 
a suposta superioridade de um gênero sobre o outro. Uma geração que reproduz o papel social atribuído a mulher de se constituir num objeto. 

Por saber o nível de envolvimento das mulheres na política, no comércio, na economia, na agricultura e na vida de Capim Grosso, inclusive à frente de Secretarias importantes e da própria Prefeitura atual e, por entender que combate definitivo à violência não tem partido, religião ou etc, neste caminho, vimos por meio desta nota afirmar que o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Coletivo de Gênero do MPA no Estado, repudia fortemente qualquer tipo de violência contra mulher e neste sentido, pede apuração detalhada, pede justiça e todas as providências necessárias dos órgãos competentes para que a morte da companheira Maria José (mais conhecida pelo apelido de “Galega”) não passe impune em um município cheio de cultura e onde as mulheres merecem um direito pleno de uma vida com liberdade e sem violência! Força à toda família da Galega! Não podemos passar sem reagir, as mulheres de Capim Grosso e a família da Maria José merecem respeito já!

                                           
Pelas nossas mortas pela violência, nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta! Maria José (Galega): presente, presente, presente!


“Mulheres contra a violência, mulheres contra o capital, mulheres contra o machismo e o capitalismo neoliberal!”.

Direção Estadual e Coletivo de Gênero do MPA BAHIA.
 

22 de Maio de 2020.