Enquanto a inflação acumulada de Janeiro de 2015 a maio de 2020 é de 30%, a cesta básica em São Paulo aumentou 50%. Os indicadores oficiais de inflação apontam uma estagnação e até redução geral nos preços. Mas os alimentos continuam subindo.
Isso é resultado de uma política que prioriza a produção de alguns grãos e carnes para o mercado externo enquanto a agricultura que produz alimentos para a mesa do povo brasileiro está sendo abandonada. O Plano Safra anunciado por Bolsonaro reforça essa lógica.
Os camponeses sofrem com o abandono do governo. Mas os brasileiros que vivem nas cidades sentirão as consequências na hora de comprar comida para matar a fome. A situação é grave, mais até para o povo urbano que para o campo.
Por isto o Plano Safra da Agricultura lançado dia 17 de junho de 2020 pelo presidente Bolsonaro merece este título: Plano Safra da Fome. Ou Plano Soja.
Depois de lido, relido e analisado, o que se vê e se lê é que se trata de mais do mesmo do que se viu nos últimos anos. Aumento dos monocultivos em grandes áreas, juros altos, foco na exportação, estímulo à produção de soja e milho. Bom para os banqueiros, ruim para o povo.
Nada direcionado à produção de alimentos. Nada direcionado ao abastecimento popular de alimentos.
Nada voltado às mais de três milhões de famílias camponesas empobrecidas no campo – assentados, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, pequenos agricultores, povos das florestas, extrativistas, indígenas, quebradeiras de coco – , que produzem sua própria subsistência e um excedente importante para o mercado local.
Desconsidera os baixos estoques de alimentos básicos e não estimula seu suprimento: arroz, trigo, feijão, mandioca, leite, etc.
Não prevê nenhum tipo de estímulo setorial para o suprimento alimentar do país: feijão, arroz, trigo, frutas, leite, mandioca, batatas, produtos da sociobiodiversidade, hortigranjeiros, etc. Desrespeita as culturas alimentares do país.
Não prevê medidas para resolver os problemas de endividamento rural que pesa sobre os pequenos e suas cooperativas e associações, fruto das crises que se sucedem desde 2014.
O que é pior. É um Plano Safra “de costas” para a situação de emergência que se encontra o país. Parece ao Plano Bolsonaro que não há pandemia no Brasil.
Além disto, induz pressão por mais área plantada, o que promoverá mais devastação na Amazônia. É um “Plano Soja”. Com um pouco de milho para disfarçar.
Caso o povo aceite comer só soja e milho e se sentir satisfeito e saciado, pode avaliar com algum grau de positivo o Plano Fome de Bolsonaro.
Na prática, vai faltar alimentos nas prateleiras e os preços vão subir. Vem aí, por culpa do Bolsonaro, além da pandemia e do desemprego, fome e alimento caro. Além do vírus, muitos e muitas perderão a vida por causa da fome.
Na Câmara dos Deputados tramita um Plano Emergencial para promover a produção em escala de alimentos saudáveis e diversificados, com fomento, crédito emergencial, aquisição de alimentos para distribuir à população pobre das cidades e solução para o endividamento rural dos pequenos agricultores.
Este oferece um pouco de esperança em meio ao desastre do Plano Bolsonaro.
Cabe lutar e mobilizar a sociedade para que seja aprovado.
Reafirmamos a defesa da vida produzindo alimentos saudáveis, pois quem alimenta o Brasil exige respeito.
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA Brasil