No Brasil, 3 mulheres morrem por dia vítimas do feminicídio, a cada 9 minutos uma mulher é estuprada e a cada 2 minutos há um novo registro de agressão física. Estes dados foram levantados pelo Atlas da Violência de 2019.
As mulheres camponesas são igualmente atingidas pela violência e ainda temos muito caminho pela frente até todas estejam livres da violência, da opressão e do patriarcado. Por isso, nós, homens e mulheres organizadas no MPA afirmamos: é necessário que o combate à violência contra a mulher seja todos os dias!
Nenhuma a menos!
Nos últimos dias a pauta sobre a questão negra brasileira tem sido marcada por três eixos significativos que movimentaram as redes sociais, círculos intelectuais, de militância e acadêmicos, são elas: a decisão do STF revendo sua posição em relação a prisão em 2º instância sem o trânsito em julgado, o ¼ da população brasileira que está vivendo e situação de extrema pobreza, a pesquisa do IBGE que indica que pela 1º vez negros e negras são maioria nas universidades públicas e o fato mais recente, ocorrido ontem, de um simbolismo muito forte, a imagem do Dep. Coronel Tadeu quebrando a placa da exposição que denunciava a violência policial contra a comunidade os jovens negros, na Câmara dos Deputados. Poderia citar uma infinidade de outros casos, mas acredito que estes mais recentes podem exemplificar de forma clara e objetiva as dimensões estruturais do racismo brasileiro, econômicas, políticas e culturais.
Sangue, sirene, choros e velas, o trecho da música dos Racionais Mc’s é um retrato cru da situação vivida pela comunidade negra brasileira – do campo e da cidade. Podemos analisar os fatos de forma isolada e chegar a determinadas conclusões e explicações conjunturais, todavia, é necessário se analisarmos os fatos como um todo interligado podemos compreender o fracasso do estado brasileiro em corrigir a estrutura desigual de distribuição da renda e da inclusão da comunidade negra no círculo de cidadania plena. Jacob Gorender, em seu livro “O Escravismo Colonial” defendia a tese que o sistema escravista brasileiro se constituía de um modo de produção original e distinto do escravismo clássico, por que era produtor de riquezas e articulado, de maneira subordinada ao capitalismo mercantil. Ou seja, a gênese do estado brasileiro está assentada na estrutura cultural, econômica e política do senhorio de terra, e capacho de potências estrangeiras.
Dos mais de 52 milhões de pessoas que vivem hoje em situação de extrema pobreza no Brasil, mais de 70% são negras. Se de cada cinco homicídios ocorridos no país, quatro são de pessoas negras e sua maioria jovens e em grande número pelas balas do aparato policial, mal preparado e influenciado pelo pensamento arcaico de que negro tem estereótipo de bandido. São evidências que colocam luz a segregação imposta pela ditadura do capital e que não perturbam a sociedade brasileira, culturalmente racista. Quando denunciamos a seletividade da estrutura jurídica brasileira que encarcera ininterruptamente nossos irmãos e irmãs negras baseados em processos frágeis e condenações escassas de provas estamos afirmando que a vida, a igualdade e a liberdade são sonhos intangíveis nessa sociedade. Dois casos emblemáticos, DJ Renan da Penha e Rafael Braga, movimentam as redes e a militância e tornaram-se símbolos da luta contra o racismo institucional que grassa o sistema jurídico do país.
Outro caso emblemático, no entanto, recorrente nos dias atuais ocorreu ontem na Câmara dos Deputados onde o Dep. Coronel Tadeu vandalizou a exposição em homenagem a Consciência Negra, que denunciava a violência policial contra a juventude negra. Coronel Tadeu é um notório racista, membro da bancada da bala, deputado irrelevante que busca fama na esteira das ações anti-democráticas e racistas do Presidente da República. Quando questionado, justificou o fato afirmando que “os negros são mortos por policiais por serem maioria no tráfico” e questionando a veracidade das pesquisas.
Nem tudo são espinhos nessa luta, pela primeira vez negros e negras são maioria nas universidades públicas do país, um feito histórico, ainda que não ocupemos os cursos de elite, é um passo importante. Vale afirmar que isso só é possível hoje graças à política de cotas implementada durante o governo de Ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Texto: Maister F. da Silva – Militante do Movimento dos Pequenos Agricultores
No dia 20 de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida porque lembra a morte de Zumbi dos Palmares, escravo que virou símbolo da luta do povo negro contra a escravidão ao liderar o Quilombo dos Palmares, em Alagoas. Para esta data, vamos lembrar de camponeses (as) negros (as) que dedicaram suas vidas à luta pela causa camponesa.
Hoje trazemos a lembrança de João Pereira de Oliveira, mais conhecido como João Bigode, que dedicou sua vida em defesa do campesinato. Militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o camponês foi assassinado em abril de 2017. Ele era presidente da associação local e também coordenador da Escola Família Agrícola, em Antônio Gonçalves na Bahia.
José Raimundo Mota de Souza Júnior. Educador popular, grande defensor da Agroecologia, das cisternas de placa e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Júnior do MPA, como era conhecido, morava na Comunidade Quilombola de Jiboia, município de Antônio Gonçalves – Bahia. Foi assassinado a tiros enquanto trabalhava no campo com um irmão e um sobrinho.
Em memória e simbolo do povo negro quilombola camponês, Tia Liquinha vive.
Por comunicação MPA
“...Eu só peço a Deus que a injustiça não me seja indiferente, pois não posso dar a outra face se já fui machucada brutalmente...” (Mercedes Sosa)
Nós do Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA vimos, por meio desta, prestar nossa solidariedade a toda companheirada do Movimento Sem Terra nesse momento difícil.
É com muita indignação e repúdio que nos manifestamos sobre essa ação monstruosa e devastadora de lares e vidas, dessa vez nos acampamentos Abril Vermelho, Acampamento Dorothy e Acampamento Irany, munícipios de Casa Nova e Juazeiro.
A nós não é estranho as ações injustas e violentas imprimidas numa sociedade onde a opressão e exploração da classe trabalhadora lhe é parte. Para além dessa realidade nos vemos impedidos/as de comunicar, expressar, defender pessoas que se encontram em total situação de desespero e de atentado contra a suas vidas. É inadmissível que o governo e autoridades competentes a essas funções que tem a competência principal de nos defender e recebem salários enormes para isso, façam justamente a ação contrária. Inclusive de optar em remover, expulsar e reprimir os trabalhadores e trabalhadoras que produzem 74% dos alimentos e que constroem a soberania alimentar, em favor do agronegócio que vem constantemente produzindo a morte em suas diversas dimensões.
É com total clareza do nosso papel e tarefa histórica que dizemos em alto e bom tom que continuaremos firmes e lutando, não nos calarão, pois somos milhões de vozes não só na Bahia, no Brasil, mas no mundo inteiro somos os que mantém a roda girando e nessas voltas em que o mundo dá, a partir de nós, obteremos vitórias e cessaremos todas injustiças e opressões juntamente com a construção de novos homens e mulheres em que a vida a partilha e solidariedade são os pilares principais da nossa existência. ”
À todas famílias acampadas e ao MST manifestamos nossa solidariedade e total apoio mediante essa situação lamentável. Dizer que continuamos juntos/as nas batalhas necessárias até que consigamos nosso objetivo maior.
MPA Brasil, 25 de novembro 2019.
“Não sou eu que vivo no passado, é o passado que vive em mim”.(Paulinho da Viola.)
Neste 13 de maio de 2019 a ‘abolição da escravatura’ no Brasil, completa 131 anos, é preciso lembrar que o país foi o último no continente americano a acabar com o regime escravocrata. A abolição da escravatura tornou-se possível pelo protagonismo de negros e negras que organizam as frentes de resistência, por meio de rebeliões e da formação de quilombos, levando os conservadores a temerem uma revolução, como a que ocorreu no Haiti (1791), primeiro país americano a acabar com o sistema escravocrata. Assim, no seio da sociedade brasileira do período imperial entraram em choque duas correntes: a abolicionista, inspirada nas sementes de liberdades plantadas pelas revoluções Francesa e Industrial, familiarizados com as teorias dos economistas clássicos e acompanhada de debates na Inglaterra acerca do sistema escravagista; e a conservadora, que defendia a escravidão como vital para manutenção econômica dos latifúndios.
Ignorando o passado escravocrata do país e, buscando sustentar a falsa ideia de democracia racial, o presidente Jair Bolsonaro afirmou em uma entrevista recente, a apresentadora Luciana Gimenez, que o “racismo é coisa rara no Brasil”. Como presidente do Brasil, país com maior população negra fora do continente africano, Bolsonaro deveria reconhecer que a formação do país iniciou em um terreno marcado por desigualdades, violências e discriminações, onde os afrodescendentes sofreram e sofrem extrema opressão e genocídio. Mas ele prefere ignorar, assim como ignora que já foi condenado por racismo por episódio em 2011 quando afirmou: “um afrodescendente mais leve lá [em um quilombo] pesa sete arrobas [medida usada para pesar gado]. Não fazem nada. Nem para procriador, ele serve mais”. O senhor presidente foi condenado pela sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) pelos comentários racistas e homofóbicos, ditos no ano de 2011. Com a decisão judicial, o presidente irá pagar R$ 150 mil para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDDD), do Ministério da Justiça.
Jair Bolsonaro ignora também que no Brasil, a cada 23 minutos, um homem negro é morto e apenas 12,8% dos jovens negros de 18 a 24 anos conseguem entrar em uma faculdade, segundo dados do IBGE de 2015. De acordo com um relatório do Ministério da Justiça do mesmo ano, 68,8% das mulheres que foram vítimas de femicídio no país são negras. Além disso, o número de jovens negros que cometem suicídio só aumenta. A cada dez jovens que tiraram a própria vida, seis são afrodescendentes, segundo levantamento Ministério da Saúde e da Universidade de Brasília. Cabe ainda lembrar que a grande massa encarcerada no Brasil é negra, onde entre os presos, 61,7% são pretos ou pardos. Vale lembrar que 53,63% da população brasileira têm essa característica. Os brancos, inversamente, são 37,22% dos presos, enquanto são 45,48% na população em geral.
Não senhor presidente, o racismo não é coisa rara, oxalá assim o fosse. O racismo no Brasil é estrutural, está na base de nossa formação. Segundo, o intelectual negro, Silvio Almeida “o racismo não é um ato ou um conjunto de atos e tampouco se resume a um fenômeno restrito às práticas institucionais; é, sobretudo, um processo histórico e político em que as condições de subalternidade ou de privilégio de sujeitos racializados é estruturalmente reproduzida”. O racismo, portanto, é apresentado como decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo “normal” com que se constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, onde a raça é um elemento fundamental para a compreensão do Estado, do direito e da economia contemporâneas. Para melhor compreendermos o que é racismo estrutural precisamos diferenciar racismo de discriminação, onde o racismo é uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios, a depender ao grupo racial ao qual pertencem. Discriminação é dar tratamento diferenciado em razão da raça.
Silvio Almeida argumenta que o racismo pode ser definido a partir de três concepções. A individualista, pela qual o racismo se apresenta como uma deficiência patológica, decorrente de preconceitos; institucional, pela qual se conferem privilégios e desvantagens a determinados grupos em razão da raça, normalizando estes atos, por meio do poder e da dominação; e estrutural que, diante do modo “normal” com que o racismo está presente nas relações sociais, políticas, jurídicas e econômicas, faz com que a responsabilização individual e institucional por atos racista não extirpem a reprodução da desigualdade racial.
Retomando a entrevista de Jair Bolsonaro a Luciana Gimenez, é preciso refletir sobre o embasamento usado por ele sobre suas afirmações: “o tempo todo tentam jogar negro contra branco, homo contra hétero, pai contra filho. Desculpe o linguajar, mas isso já encheu o saco”. De acordo com Silvio Almeida a negação do racismo e a evolução do conceito de democracia racial se aperfeiçoaram com o conceito de meritocracia, segundo o qual os negros que se esforçarem poderão usufruir de direitos iguais os dos brancos. Tal conceito, na prática, apenas serviu e serve para a manutenção da desigualdade entre brancos e negros. Embora desde o final do século XX a teoria da democracia racial tenha sido denunciada como uma falácia, o autor aponta que o mito da democracia racial é fortemente difundido, pois serve de argumento para apontar as políticas de combate ao racismo como desnecessárias, com habituais alegações de que todas as pessoas possuem as mesmas oportunidades.
Para a filósofa, escritora e uma das fundadoras do Geledés – Instituto da Mulher Negra e homenageada da edição 2019 da FestiPoa Literária, Sueli Carneiro é necessária a criação de um novo pacto racial e de gênero no Brasil, que desaloje todas as hierarquias produzidas pelo racismo e pelo sexismo. “A valorização da diversidade humana torna-se um pré-requisito para a reconciliação de todos os seres humanos. Se podemos educar as pessoas para discriminar e oprimir será possível fazê-las aprender a respeitar, acolher e se enriquecer com as diferenças raciais étnicas e culturais. Este é o abcesso do novo pacto racial e de gênero que desejamos. Um país que foi capaz de criar a mais bela fábula de relações raciais, que é o nosso mito da democracia racial, talvez seja também capaz de um dia torná-lo realidade”, afirmou.
Sueli também afirmou que sua geração teve um papel fundamental na desmistificação da democracia racial e em mostrar que era uma falácia e uma hipocrisia. Segundo ela, ao fazer isso, sua geração rompeu com o pacto e a etiqueta social que, até então, governava as relações raciais no Brasil. Segundo a escritora, havia um combinado na sociedade brasileira. As pessoas brancas racistas nos diziam ‘o Brasil é uma democracia racial, nós vamos dizer isso e vocês negros vão fazer de conta que acreditam. Enquanto esse pacto prevalecer nós não teremos problemas’. E quando a gente nega isso e começa a exigir políticas de ação afirmativa como medidas de correção de redução de desigualdades o pacto se rompe”, afirmou. Sueli usou como exemplo para isso a criação de cotas raciais nas universidades brasileiras, as cotas tiraram os racistas do armário e os organizaram. Isso também fez emergir toda violência e crueldade que esse racismo tem.
Segundo Sueli, há uma absoluta e crescente violência racial, que se manifesta de diferentes formas, e que tem a sua forma mais extrema no genocídio de jovens negros. De acordo com a filósofa, esse não era o país que sua geração pretendia entregar para as gerações futuras. “Nós até acreditávamos há alguns poucos anos atrás que estávamos adentrando um círculo virtuoso de enfrentamento das desigualdades raciais, que nos permitiria construir uma nação mais justa e mais igualitária. Essa é a promessa que a minha geração fez para a de vocês. Falhamos”. Quando questionada sobre o papel da filosofia e da sociologia no cenário atual do país, no momento em que o presidente Jair Bolsonaro fala em acabar com os recursos públicos para cursos na área. Respondeu, definindo a filosofia como exercício da revolução crítica, que em tempos de obscurantismo, precisa ser suprimida. “É sempre assim. E nesses tempos, a resistência tem que preservá-la. Nós vamos continuar filosofando e ensinando filosofia, problematizando, estudando e estimulando o pensamento crítico da sociedade brasileira. Seja no espaço público, seja no subterrâneo da liberdade”, afirma a filósofa.
A luta da negritude por libertação ainda não chegou ao fim, Sueli e Silvio são alguns dos lutadores e lutadoras que dedicam a vida a causa da libertação das populações negras, são alguns dos Zumbis e Dandaras, Luizas e Luizes, que não cedem a pressões discriminatórias, políticas de deslegitimação, invisibilização e extermínio promovidas seja pelo Estado ou por organizações associadas ao mercado que mercantiliza a vida da negritude como outrora já foi mercantilizada pelo sistema escravocrata.
“…Chega de festejar a desvantagem
E permitir que desgatem a nossa imagem
Descendente negro atual meu nome é Brown
Não sou complexado e tal
Apenas Racional
É a verdade mais pura
Postura definitiva
A juventude negra
Agora tem voz ativa…”(Trecho da música Voz Ativa, Racionais Mc’s)
Referências:
Michele Corrêa
Negra, Graduanda em Filosofia na UFPel,
Militante da Pastoral da Juventude (PJ) e
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
Há um dito comum entre os lutadores populares, “você é livre a partir do momento que começa a forjar sua consciência de classe”. A partir dessa leitura me considero um negro livre. Assim como afirmou Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”
Liberto, porém condenado a viver diariamente a dor e a luta coletiva de milhares de negros e negras por uma democracia racial substantiva, contra o extermínio desenfreado da juventude negra, igualdade de salários, liberdade religiosa, reconhecimento e respeito. Liberdade parece uma palavra vã a um povo que teve a liberdade condicionada à desestruturação familiar e a exclusão sociopolítica e socioeconômica.
Nosso calvário perdura, não quero aqui retornar aos anos da escravidão, do último país a abolir a escravatura, onde não tínhamos a condição de humanidade, quiçá a utopia de cidadania. É certo que aí forjaram-se as raízes da exclusão e do racismo institucional a que está submetido o povo negro brasileiro. Todavia, quero ater-me ao agora ao fato de que somos mais da metade do povo brasileiro e ocupamos a minoria dos bancos da academia, ao passo que quando ultrapassamos essa barreira e alcançamos o diploma acadêmico ao acessar o mercado de trabalho recebemos os menores salários. Ao fato de o Brasil ser o país com mais empregadas domésticas do mundo, cerca de 7 milhões, predominantemente negras com baixa escolaridade. Ao fato de que mais de 72% dos moradores das favelas brasileiras são negros. Ao fato de que conforme dados publicados pelo IBGE em sua última pesquisa que estratificou as estatísticas de cor ou raça, cerca de 70% dos que vivem em situação de extrema pobreza, são negros e que 76% dos que vivem na pobreza são negros.
O contexto de crise por que passa o país atinge em cheio a comunidade negra, os números definem, a miséria que ora grassa por todo o território brasileiro é parte endêmica de um projeto a que o estado brasileiro condenou o povo negro. Após 131 anos da abolição da escravatura o povo negro segue com fome, de moradia, de alimentação digna, de educação, de igualdade e de liberdade substantiva, no plano político, econômico, cultural e religioso. A psique da sociedade brasileira segue racista e excludente, alegam que no Brasil não há fome – de nada. Seus olhos condenam, mas não são capazes de perceber, tampouco admitir seu próprio racismo.
Por Maister* F. da Silva
(*) Militante do Movimento dos Pequenos Agricultores e membro do FRONT – Instituto de Estudos Contemporâneos
As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.
Governo Bolsonaro propõe extinguir, através de Emenda Constitucional encaminhada hoje (05 de novembro de 2019) mais de 1200 pequenos municípios com população inferior a 5.000 habitantes. Diz que são a causa da quebradeira da nação.
Isto ao mesmo tempo em que Bolsonaro está doando 1 trilhão de dólares para as multinacionais estrangeiras do petróleo através dos leilões do pré-sal.
Uns trocados desta infame entrega do petróleo a preço de banana sustentaria a vida destes municípios e muito mais, por dezenas de anos.
E o que são estes pequenos municípios?
São compostos de população tipicamente camponesa, rural, com altos valores comunitários, com intensa integração entre as pessoas, preservação de valores culturais importantes, cuidado local com a saúde e com as novas gerações, baixos níveis de criminalidade e de drogadição, preservação de valores familiares ( tão exaltados pelo autor desta aberração), alta produção própria de seus meios de existência – de modo especial os alimentos – e forte participação política nas decisões locais.
Esta decisão extingue importante modo de vida e de autonomia política destas comunidades. Vai provocar enorme êxodo para outras cidades, por extinção de equipamentos locais de atendimento da população, de modo especial, na área da saúde e educação.
Já no curto prazo vai aumentar as despesas do estado, pois vai jogar mais famílias e mais jovens nas periferias de médias e grandes cidades.
É, acima de tudo, um desprezo por um modo de vida e por valores comunitários importantes para a identidade do povo brasileiro.
Desprezo brutal pelas famílias camponesas que produzem alimentos.
Desprezo pela luta destas comunidades por construírem sua identidade própria e seu próprio caminho para solucionar seus problemas.
É, acima de tudo, uma aberração em todos os sentidos. Com alguns agravantes de desconhecimento brutal do interior do país, sua história e sua importância. Conheço um município, Colorado, no Rio Grande do Sul, que está emancipado há mais de 50 anos. Será extinto por Bolsonaro. É só um exemplo do tamanho desta aberração.
O Brasil Interiorano, o Brasil Caboclo, o Brasil Sertanejo, o Brasil dos Sertões, o Brasil Camponês, o Brasil Colono, o Brasil Rural Profundo, o Brasil que Alimenta o Brasil, acaba de receber uma bofetada na boca do estômago, partindo do punho sem piedade do governo Bolsonaro.
Este Brasil é muito maior e mais forte do que Bolsonaro imagina. Não ficará sem resposta.
Esta resposta começará pelos que, nestes imensos rincões, votaram nele.
Nesta cultura interiorana, traição é uma ofensa grave, é a maior das aberrações. Os que votaram nele, nestes municípios, estão sentindo neste momento a dor de uma grande traição.
Sérgio Antônio Görgen ofm, Frei Franciscano, militante do MPA e autor do Livro “Trincheiras da Resistência Camponesa”.
Há 50 anos, o político, guerrilheiro, escritor e fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella, era assassinado na Alameda Casa Branca, em São Paulo, em uma emboscada preparada por agentes do Departamento de Ordem Pública e Social (DOPS).
Apontado como inimigo público número um da ditadura militar e tendo seu rosto estampado em diversos cartazes de "procurado" pelo Brasil, o guerrilheiro foi morto no dia 4 de novembro de 1969. O seu legado de luta nos inspira a continuar lutando por um Brasil com soberania, justiça social e igualdade.
Rondó da Liberdade
é preciso ter a coragem de dizer.
Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.
Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
O homem deve ser livre...
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
Carlos Marighella
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